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Gestão das infra-estruturas desportivas: Terá Falcão coragem de entregar os estádios e pavilhões aos privados?

Não é uma promessa de hoje. Já duas ministraspassaram, duas antigas andebolistas que deram alegrias à Selecção sénior feminina de andebol, Ana Paula Sacramento Neto e Palmira Leitão Barbosa, mesmo com as promessas, não conseguiram entregar para gestão privada os estádios e pavilhões espalhados por todo o País.

Em 2021, o Presidente da República, João Lourenço, mostrou-se preocupado com o estado de degradação das infraestruturas desportivas no País. Sem se ter encontrado uma solução, em 2023 o titular do Poder Executivo voltou a apontar o dedo aos gestores, que continuam a ser os órgãos do próprio Estado.

Ainda em 2023, aquando da tomada de posse dos membros do Conselho Económico e Social, João Lourenço pediu ajuda para que se encontrasseuma solução para o fardo que há muito prejudica o País, uma vez que se trata de investimentos que custaram centenas de milhões de dólares aos cofres públicos.

“Não deve ser o Estado a gerir as infraestruturas, no entanto, espero que nos ajudem a encontrar as melhores soluções para invertermos o quadro. Precisamos de ideias para ver se saímos da situação em que nos encontramos hoje”, desabafou na altura o Presidente João Lourenço, quando ainda o Ministério da Juventude e Desportos era tutelado por Palmira Barbosa.

João Lourenço lembrou que, apesar do mau estado de conservação de grande parte das infraestruturas desportivas, os atletas nacionais têm conquistado várias medalhas e taças, nas distintas modalidades, em competições internacionais, por se entregarem de corpo e alma, tendo admitido ainda que, do ponto de vista de condições de treino no País, o desporto não está bem.

FAF responsabiliza gestores

Após desabafo de João Lourenço, em entrevista à Lusa, a 15 de Janeiro de 2023, o vice-presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF), José Carlos Miguel, considerou que o estado de degradação das infraestruturas desportivas é resultado da incompetência dos gestores, tendo chegado à conclusão de que o quadro actualfragiliza o desporto e o país.

É uma verdade inquestionável. Em rigor, as nossas infraestruturas desportivas estão voltadas ao abandono, em consequência de uma verdadeira e incompetente má gestão, que deixa o país numa situação verdadeiramente má, assumiu José Carlos à Lusa.

O vice-presidente da FAF defendeu na altura a necessidade de se mudar os critérios de gestão, o que, na sua visão, passa por dar a responsabilidade a quem esteja vocacionado para o efeito, por via de concurso público. É preciso entregar a gestão a quem esteja verdadeiramente vocacionado para o efeito, pois não é o Estado quem tem esta vocação. Basta olharmos para o Estádio 11 de Novembro, como está o Estádio do Tafe, da Tundavala, de Ombaka, como está o Estádio dos Coqueiros, como estão os pavilhões multiúsos espalhados pelo País. Temos que parar imediatamente, de maneira urgente, reflectir, fazer concurso público para quem, realmente, está vocacionado para gerir infraestruturasdesportivas, apelou.

Assim sendo, José Carlos Miguel defendeu, igualmente, a responsabilização aos gestores que incorrerem em má gestão do património público angolano.

Ana Paula do Sacramento Neto e Palmira Barbosa não conseguiram dar solução a este problema, e a pergunta que não se cala é a seguinte: se o próprio Estado reconhece que a fórmula está nas mãos dos empresários para se ter estádios e pavilhões não degradados, será que Rui Falcão, o actual ministro da Juventude e Desportos, irá conseguir desbloquear este dossiê que parece ser um osso duro de roer?

Neste momento, se calhar, ainda é prematuro obtermos uma resposta que possa agradar a todos os angolanos. Rui Falcão, apesar de ter no passado pertencido ao MINJUD, nesta nova missão está a começar por conhecer melhor o sector que dirige, já que estas primeiras semanas têm sido de auscultação.

Em Cabinda, para se ter uma ideia do quanto andam degradadas as estruturas desportivas, o Estádio do Tchiaze, recinto que custou mais de 70 milhões de dólares norte-americanos, construído para acolher o Campeonato Africano das Nações (CAN 2010), há anos que anda transformado num elefante branco.

O seu estado actual não justifica os milhões que recebe anualmente do Orçamento Geral do Estado. De Cabinda os relatos que chegam ao público, por via de imagens que inundam as redes sociais, são de um Tchiaze em poeiras, florestação avançada, escombros e ferrugem em todo o material metálico que cobre o estádio.

Em Luanda, o Estádio Nacional 11 de Novembro, o maior de entre os quatro construídos para o CAN 2010, não é uma flor que se cheira. Em 2023, o Petro de Luanda por pouco perdeu a sua participação na Superliga Africana por conta do estado degradado que apresentava.

A presença dos tricolores na competição só foi possível quando, em Agosto do ano passado, dois meses antes do arranque da prova, o Presidente da República autorizou a despesa e a formalização da abertura de um concurso para a contratação emergencial, para as obras do Estádio 11 de Novembro, por 23,7 milhões de dólares. Aexecução foi entregue a uma das empresas do grupo israelita Mitrelli.

A empreitada para a reabilitação parcial do Estádio Nacional 11 de Novembro custou no total 22,4 milhões USD, enquanto a fiscalização foi adjudicada pelo valor global de 1,3 milhão USD à AMBIGEST – Gestão de Engenharia e Ambiente, S.A.

Já na Huíla, o cenário do Estádio da Tundavalanão é tão preocupante como os outros, embora muito recentemente o Estado tenha gastado para asua reabilitação mais de mil milhões de kwanzas, mas mesmo assim o governador daquela província alertou que o recinto precisava de obras profundas.

Actualmente, o Estádio da Tundavala é o quartel-general do Desportivo da Huíla, a única representante da província no Campeonato Nacional de futebol da primeira divisão, mais conhecido por Girabola, que a partir da próxima época poderá ser disputado em formato de Liga.

Em Benguela, o Estádio Nacional de Ombaka vaise aguentando à sua maneira, com os milhões que o Estado injecta para a sua gestão, com a relva abaixo daquilo que se pode esperar em função dos jogos que acolhe.

Tem sido, pelo menos nos últimos anos, a casa do Wiliete de Benguela, aliás, este mesmo clube, à testa do empresário Wilson Faria, há muito que tem solicitado ao Ministério da Juventude e Desportos para que lhe seja cedido a título de entidade gestora, mas nem mesmo com a boa vontade do emblema benguelense o MINJUD se abre.

Foi em 2021 que o Wiliete Sport Clube de Benguela mostrou pela primeira vez interesse emficar com o Ombaka, desejo que se alimentou ainda mais em 2022, quando o Ministério da Juventude e Desportos, na altura sob tutela de Ana Paula do Sacramento Neto, abriu um concurso público para a gestão de estádios e pavilhões, um dossiê que se encontra engavetado desde a véspera das últimas eleições gerais no país até aos dias de hoje.

Além dos quatro estádios que acolheram o CAN 2010, várias são as infraestruturas construídas pelo Estado que requerem reabilitação.

Por outra, no presente ano, segundo sabe o Luanda Post, o Governo irá gastar mais de 600 milhões de kwanzas para reabilitar o Pavilhão Multiúsos do Kilamba, atendendo que, para o próximo ano, Angola foi escolhida pela FIBA África para acolher pela quarta vez o Afrobasket.

Ainda em Luanda, a histórica Cidadela Desportiva, maior palco futebolístico antes do CAN 2010, há muito que é uma carta fora de baralho por parte das autoridades, atendendo os custos onerosos para voltar a ser o que era no passado.

No âmbito da entrega aos privados da maior parte das estruturas desportivas nas mãos do Estado, futuramente a Cidadela será transformada em quartel-general do Petro de Luanda, um negócio que da parte do clube junto das autoridades está a ser tratado pela Sonangol. Nos planos do Petro, segundo sabe este jornal, a mítica Cidadela sealvo de obras profundas e milionárias.

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