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NAL & Qual

NAL – Novo Aeroporto de…Luanda. É “L” de Luanda e não de Lisboa. Foi inaugurado na passada 6ª feiraÉ verdade, os Angolanos conseguiram em metade do tempo, aquilo que os políticos portugueses não conseguiramdepois de 50 anos de debate.

É verdade, no 7º maior país de África e num dos mais ricos do Continente, falta mais ou menos tudo: faltam transportes públicos e estradas em condições; falta saneamento, esgotos e tratamento de resíduos; falta água e eletricidade; faltam hospitais, escolas e tribunais que funcionem; falta segurança e agentes policiais que controlem os polícias corruptos; falta comida na mesa e poder de compra; falta confiança e falta futuro. Falta tanta coisa. Quando nos despedimos de Luanda, no atual aeroporto 4 de Fevereiro, a última coisa que nos salta à vista nesta lista de tantas “faltas” é a de que falta um novo aeroporto faraónico. Mas agora está feito e inaugurado. A história deste novo aeroporto é também uma história de exploração e de umapolítica pública falhada. Um estudo do Banco Mundial (!) apontava para a necessidade de um novo aeroporto e assim se começou a projetar o NAL há 26 anos.

Em 2005, a empresa norte-americana Penkins & Will apresentou um estudo de viabilidade que apontava um custo de construção na ordem dos 250 milhões de dólares. O jornal angolano Expansão refere um custo final de 7.500 mil milhões, ou seja 30 vezes mais. Para além de atrasado e mais caro, este NAL está sobretudo desatualizado: ainda na inauguração, as autoridades angolanas mostravam-se orgulhosas das duas pistas onde podem aterrar os maiores aviões do mundo – os Boeing 747 e os Airbus A380.

De facto, naquele tempo, a TAAG ainda tinhaBoeing 747 na sua frota mas, tal como aconteceu com a maioria desses aviões cuja produção já foi terminada pelo construtor, a companhia angolana optou por modelos menores e mais eficientes. Já o Airbus A380 parecia muito promissor quando fez o seu primeiro voo em 2007, mas também a sua produção terminou definitivamente há 3 anos e a sua exploração ficou praticamente reduzida a uma única companhia que nunca manifestou desejo de o usar para Luanda.

Este NAL é também desnecessário: no dia seguinte à sua inauguração, todos os voos de passageiros (e a carga que vem neles) continuaram a operar no “antigo” aeroporto, como se nada fosse, esvaziando a importância da existência deste NAL. Nos próximos dois anos – sem contar os atrasos – pouco ou nada mudará: serão raríssimos os voos exclusivamente cargueiros que o utilizarão porque a esmagadora maioria da carga chega a Angola de barco e a pouca que chega pelo ar, o faz no compartimento inferior dos aviões de passageiros que continuarão a aterrar no antigo aeroporto.

Para o ano, dizem, será a vez de levar os voos domésticos para o NAL – num país com poucas alternativas de mobilidade interna, as províncias e o enclave de Cabinda são alvo de um isolamento brutal ditado por tarifas aéreas domésticas exorbitantes e por falta de confiabilidade na única companhia (estatal) que opera esses voos. A este isolamento junta-se agora a aterragem num aeroporto a 40 quilómetros da cidade – a ligação do NAL à Praça da Independência pode demorar até 3 horas, de acordo com as condições do trânsito e da chuva. E se o passageiro doméstico tiver o azar de estar em ligação para um voo internacional – só Luanda está certificada para receber tais voosa única forma é pernoitarem Luanda. Como é que um país se pode desenvolver quandos os acessos à grande maioria do seu território recuam em rapidez, eficácia e custo?

Para este governo angolano o que conta é que o turista pé-rapado que comprou uma passagem barata de Madrid para Cidade do Cabo a bordo da quase falida TAAG, aterre um dia, em 2025, no NAL e pense: “que aeroportotão lindo e desenvolvido, da próxima vez que nunca acontecerá fico uns dias neste país”.

Os kwanzas do NAL angolano não são meus, mas os euros do NAL português são. Encomendar aviões para as companhias aéreas estatais e construir aeroportos de 10 mil milhões de euros é um negócio que dá milhões em corrupção, desvio de fundos, troca de favores e outras armadilhas imobiliárias que poderão ser apanhados em escutas ouinvestigações criminais...ou não. Uma coisa é certa: o animal político precisa tanto destas empresas e destas empreitadas públicas como pão para a boca e move-se de formas cada vez mais sofisticadas. Com novas eleições no “ar”, será que ainda nos sobra uma maioria não corrompida que consiga eleger um governo que não seja corrupto?

In: Jornal Económico

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