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Vicente e dos Santos poderão ser aliados?

* Por: Celso Filipe

O ex-vice-presidente de Angola e a empresária estão em lados opostos da barricada. No entanto, caso Manuel Vicente venha a ser pressionado pela justiça, poderá involuntariamente tornar-se aliado de Isabel dos Santos na luta contra João Lourenço.

Manuel Vicente e Isabel dos Santos são inimigos mas essa condição não os impede de virem a ser, embora involuntariamente, aliados. O ex-vice-presidente de Angola é o calcanhar de Aquiles do atual Presidente no que diz respeito à luta contra a corrupção e a empresária é o exemplo que João Lourenço está a dar de que quer vencer essa batalha.

Isabel dos Santos já está há muito a ser jogada mediaticamente e Manuel Vicente goza de uma imunidade que terminará a 2022. Apesar disso, o caso AAA, que envolve dinheiro alegadamente subtraído da Sonangol, da qual Manuel Vicente foi também presidente aumenta a pressão sobre este. Ainda mais depois de Carlos São Vicente, acusado de ter desviado 900 milhões de euros da petrolífera, ter sido colocado em prisão preventiva. A justiça angolana já chamou a depor altos quadros da Sonangol, inclusive o ex-presidente Francisco Lemos, procurando averiguar os eventuais erros de gestão cometidos. Sob pressão, Vicente poderá ser tentado a enveredar por estratégias que descredibilizem o atual Governo.

É precisamente neste contexto que os dois inimigos poderão partilhar um objetivo comum, o de fragilizar João Lourenço para travar o seu ímpeto reformista.

Manuel Vicente e Isabel dos Santos sempre tiveram em campos opostos e o seu único ponto de contacto foi José Eduardo dos Santos. Agora, a empresária, emaranhada numa teia de processos, concentra todos os esforços na sua defesa e continua a clamar inocência. Já o antigo vice-presidente tem mantido um comportamento discreto e a única vez que sentiu necessidade de intervir foi há semanas, precisamente quando Mário Leite da Silva, braço direito de Isabel dos Santos, o acusou de estar na origem de um desvio de verbas da Sonangol, envolvendo a compra de uma posição direta na Galp. Vicente emitiu um comunicado a negar veementemente essa imputação.

Dino e Kopelipa ouvidos na Procuradoria

Outras duas figuras muito próximas de José Eduardo dos Santos também estão na mira das autoridades judiciais. Os generais Leopoldino do Nascimento “Dino” e Hélder Vieira Dias “Kopelipa” são ouvidos esta terça-feira na Procuradoria-Geral da República. A razão para tal é a existência de fortes indícios de terem beneficiados dos negócios que o Estado teve com empresa China International Fund. No entanto, pela lei, os oficiais generais gozam de imunidade e não podem ser presos preventivamente antes do despacho de pronúncia, na fase de instrução contraditória.

Numa conjuntura económica adversa e que se deteriorou ainda mais com a covid-19, João Lourenço tem um espaço diminuto para lançar a sua candidatura às eleições gerais de 2022, obter o apoio popular e reunir o MPLA numa campanha que se avizinhará particularmente complicada, na medida em que crise afeta de forma muito forte a população.

Para ultrapassar esta montanha, uma das estratégias será exatamente a de continuar na senda da luta contra corrupção, uma circunstância que putativamente o levará a deixar cair a aparente parede de proteção que existe à volta de Manuel Vicente.

É aqui que os caminhos do ex-vice-presidente e de Isabel dos Santos se poderão cruzar, identificando João Lourenço como a maior fonte de todos os seus problemas e ripostando à medida desse diagnóstico.

Seria uma ironia que isso acontecesse, mas ainda assim não deixa de ser uma probabilidade a ter em conta.

*Jornalista – Negócios

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