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Kalaf: “Isabel dos Santos é o bode expiatório de algo muito mais nocivo que ainda está presente em Angola. A corrupção é quase cultural”

Nasceu em fevereiro de 1978, em Benguela. Os pais estudaram em Portugal mas regressaram a Angola. Eram funcionários públicos e tinham o sonho de ver o país livre e independente do colonialismo.

Para este podcast trouxe uma das fotos de infância que guarda com mais “carinho”. Foi tirada em 1981, quando tinha três anos. Angola estava em guerra civil. “Foi uma altura desafiadora para as crianças e para os pais, nestes tempos os sonhos tinham teto”, recorda.

Viveu parte da infância com o país em guerra e os pais proibiram-no de brincar com pistolas. Levava o dia a ler e a desenhar com o irmão, que é hoje artista plástico. Angola estava profundamente dividida e a família também. “Tive sempre uma parte da família que olhava para Portugal de uma forma cética e alguns que estavam do outro lado da barricada”, conta.

O avô era do MPLA e os primos mais velhos estudaram em países soviéticos. “Quando regressaram vinham a falar russo e tinham por hábito conversar em russo entre eles para ninguém descobrir os segredos”, recorda.

Viajou pela primeira vez para Portugal aos sete anos, por causa de um acidente no olho esquerdo. Os médicos angolanos disseram que não havia solução, mas a mãe não desistiu.

Aos 17 anos veio viver para Portugal com o irmão. As malas ficaram feitas durante dois anos. “Só comprava livros e discos”, recorda.

O irmão regressou a Angola anos mais tarde. “Eu disse logo que não ia voltar”, afirma. Recorda uma conversa sobre a dupla nacionalidade que teve com o pai, que sempre foi contra “Não é fácil circular livremente com passaporte angolano. Hoje tenho dupla nacionacionalide”, continua.

Hoje vive em Berlim e sente “resistência” com os imigrantes – sejam “gold” ou de “baixa renda” – e pede “generosidade” por aqueles que, como ele, abandonaram o país onde nasceram em busca de uma vida melhor.

Regressando à Angola de hoje mostra-se desiludido com o rumo do país, que ficará para sempre marcado pela passagem da família Dos Santos. “Isabel dos Santos é o bode expiatório de algo que é muito mais nocivo e que ainda está presente em Angola. A corrupção é quase cultural”, confessa.

“Tive vergonha alheia dos portugueses que abriram a porta a Isabel dos Santos. Portugal estava a precisar, o dinheiro era dos angolanos, e ninguém se deu ao trabalho de perguntar se isso era justo para um povo tão sofrido como o povo angolano. Podiam ter-se recusado a abrir as portas ao dinheiro dela”, continua.

Nesta conversa com Bernardo Ferrão falou abertamente das declarações do Presidente da República sobre a reparação às ex-colónias e diz que “não está preocupado” com quem detém as obras que são do “povo” e reconhece que não há condições em alguns países para cuidar e preservar algumas obras. “Há pessoas que defendem que isso não interessa, importante é devolver, mas há certas obras que fazem mais sentido estarem expostas noutro lugar do mundo”, explica.

SIC

 

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