Presidente angolano volta a olhar olho no olho o estadista chinês, que não anda muito satisfeito com a nova versão da política internacional adoptada por Angola.
Xi Jinping, que recebe João Lourenço ainda neste mês, segundo a agenda diplomática, é nada mais senão o Presidente do maior país credor de Angola, cuja dívida representa um quarto de todo o empréstimo chinês em África.
É verdade que a lógica determina que um credor deve apenas aguardar pelo reembolso do bem investido no tempo combinado, e não se imiscuir na relação que este possa construir, mas a prática demonstra o contrário. Acções de relações públicas são essenciais para manter o negócio.
Angola não cometeu nenhuma heresia ao ter optado por estreitar relações com os EUA, que foi o mote do antagonismo que se verificou da parte da potência asiática, embora esta negue a existência de qualquer irritante, apesar de ter deixado de dar importância diplomática a Angola, ao levar cerca de seis meses para nomear um embaixador junto do Estado angolano.
Neste quesito, a falha do lado angolano foi a opção abrupta, as autoridades não prepararam um cenário que permitisse as pessoas e a comunidade diplomática vislumbrarem o que estava por vir. Como uma tempestade, foi tudo de repente.
Após Angola ter votado por abstenção na ONU a uma resolução que visava condenar a invasão da Rússia sobre a Ucrânia, e após o grupo parlamentar do MPLA, partido governante, ter chumbado a proposta da UNITA para a condenação da Rússia, o Presidente da República instou, durante a cerimónia de sua investidura para o seu segundo mandato, a Rússia a terminar com a guerra. A seguir, Luanda tornou-se numa placa giratória para os governantes norte-americanos, tendo os chineses observado importantes obras e parcerias escapando-lhes entre os dedos.
Essa visita do PR João Lourenço deverá de facto serenar os ânimos e realinhar as relações, tendo em conta que, em Angola, há mercado para os chineses e norte-americanos operarem sem prejuízo de nenhuma das partes.