O debate semanal com o primeiro-ministro na Câmara dos Comuns do Reino Unido teve um início insólito, esta quarta-feira, com Boris Johnson a pedir desculpa ao país e afirmar que “assume responsabilidade” por encontros realizados na sua residência oficial em violação das regras de covid-19, no ano passado. Ele próprio participou nalguns e diz saber que há “ira” contra si e o Executivo.
Johnson prometeu voltar a abordar o assunto no Parlamento quando terminar o inquérito sobre o assunto que está a ser liderado pela funcionária da administração pública Sue Gray. O governante conservador soube dos encontros em causa e participou em alguns, incluindo um para o qual o seu secretário enviou um convite a 100 pessoas, pedindo que trouxessem bebida.
Estiveram presentes cerca de 40 funcionários. O convite rezava assim: “Olá a todos. Depois de um período incrivelmente agitado, pensámos que seria simpático aproveitar o bom tempo e tomar bebidas com distanciamento social esta tarde, no jardim do n.º 10”. O primeiro-ministro insiste em que estava persuadido de que eram enquadráveis no conceito de encontros de trabalho.
“O n.º 10 [de Downing Street] é um grande departamento com um jardim que serve de extensão ao gabinete, e que tem sido constantemente usado devido à importância do ar livre para travar o vírus. Quando fui ao jardim pouco depois das 18h, a 20 de maio de 2020, para agradecer a grupos de trabalhadores, tendo regressado ao meu escritório passados 25 minutos para continuar a trabalhar, pensei tratar-se de um encontro de trabalho”, justificou-se Johnson. “Quão estúpido pensa que é o povo britânico?”, questionaria minutos depois o trabalhista Chris Bryant. O governante foi respondendo a todos os críticos insinuando que estavam a tirar proveito partidário da situação.
“Olhando para trás, devia ter mandado toda a gente para dentro”, afirmou. Do outro lado da sala vinham exclamações incrédulas (e nada convencidas) dos deputados dão oposição. “É tão ridículo que chega a ser ofensivo!”, reagiu o líder do Partido Trabalhista. “Enquanto o país estava confinado, dava festas de copos em Downing Street. Fará o que é decente, demitindo-se?”, inquiriu Keir Starmer.
“Repito, pensei tratar-se de um encontro de trabalho. Lamento muito que não tenhamos feito as coisas de outra forma nessa tarde”, afirmou Johnson, referindo-se à festa com bebidas, a 20 de maio de 2020. Na altura os britânicos só podiam estar com membros do seu agregado familiar, sendo a única exceção juntarem-se a mais uma pessoa, no máximo, ao ar livre.