Depois do alerta do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, sobre o acesso desigual às vacinas contra a Covid-19, a Plataforma de Aquisição de Equipamento Médico para África (AMSP, sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos criada pela União Africana (UA) para a resposta à pandemia, começa esta terça-feira a aceitar pré-encomendas de vacinas contra o novo coronavírus de todos os membros da UA.
De acordo com o comunicado avançado esta manhã, foi assinado um acordo provisório com três farmacêuticas — a AstraZeneca, Johnson&Johnson e Pfizer — para fornecer 270 milhões de doses de vacinas para o continente africano. A compra será feita através do Centro de Controlo e Prevenção das Doenças África (CDC), depois de ter sido anunciado pelo chefe de Estado sul-africano, e presidente em exercício da UA.
O pagamento aos fabricantes será feito através de garantias no valor de dois mil milhões de dólares (cerca de 1,65 mil milhões de euros) asseguradas pelo Afreximbank – Banco Africano de Exportação e Importação, uma instituição multilateral de financiamento do comércio pan-africana, criada sob os auspícios do Banco Africano de Desenvolvimento – em nome dos 55 Estados-membros da UA.
“É algo histórico”, afirma o enviado especial da União Africana, Strive Masiyiwa, em comunicado. “Pela primeira vez na história, a África garantiu o acesso a milhões de doses de vacina no meio de uma pandemia como a maioria dos países ocidentais. Ainda há uma grande escassez de doses de vacina e é por isso que esta colaboração continental projetou uma alocação justa, juntamente com o acesso oportuno e equitativo de vacinas COVID-19 em todo o continente”, reforçou.
Para apoiar os processos de vacinação, a AMSP lançou também uma nova categoria de equipamentos para vacinas que ajudará os Estados Membros a adquirir produtos como congeladores de temperatura ultrabaixa, equipamento de proteção pessoal, rolos de algodão, seringas e agulhas.
Esta segunda-feira, Tedros Adhanom Ghebreyesus alertou que enquanto já tinham sido vacinadas 39 milhões de pessoas no mundo contra a Covid-19, os países de baixo rendimento só tinham recebido, até à data, 25 doses da vacina.
Face a esta realidade, o responsável lançou um alerta: “Preciso ser honesto. O mundo está à beira de uma falha moral catastrófica e o preço dessa falha vai ser pago nas vidas dos países mais pobres”.
Em causa está a desigualdade no acesso à saúde, que se tornou transparente na crise da Covid-19. Os países ricos, com capacidade para firmarem contratos com as grandes farmacêuticas para encomendarem antecipadamente muitos milhões de vacinas contra o novo coronavírus, esgotaram a capacidade de produção das farmacêuticas. Esta procura elevada, e o fraco poder de compra, bloqueou a tentativa de encomenda dos países mais pobres, e segundo alguns cálculos, algumas nações poderão ficar privadas destes fármacos até 2024.