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Depois do Lava Jato, Odebrecht regressa a Angola

Seis anos depois de a Operação Lava Jato ter destapado o envolvimento de alguns dos seus executivos em casos de corrupção e de ter provocado a redução da sua operação, a construtora brasileira Odebrecht está de regresso ao mercado angolano com uma nova marca, uma nova imagem e uma filosofia empresarial revigorada.

Fruto da sua reconhecida capacidade técnica e pujança competitiva, comprovada em diversas obras erguidas em Angola ao longo dos últimos 35 anos, aquela construtora acaba de ser convidada para liderar a montagem da refinaria de Cabinda, com capacidade para produzir 60 mil barris/dia, e um investimento avaliado em 920 milhões de dólares.
Empreitada complexa do ponto de vista da engenharia, a Odebrecht, que agora adotou a designação de OEC ao assumir esse desafio, poderá vir a substituir a Mota-Engil e a Omatapalo, ambas afastadas do projeto pela “pouca experiência” neste tipo de empreitada detetada pelo dono da obra: a Gemcorp.

“A proposta apresentada pela Odebrecht foi a que se revelou mais consistente do ponto de vista técnico”, justificou fonte daquele fundo de investimento como causa principal para o afastamento do consórcio luso-angolano.

Com uma vasta experiência na montagem de refinarias e plataformas petrolíferas no Brasil, Venezuela, Argentina, Singapura e Inglaterra, a Odebrecht é vista por vários especialistas como sendo das poucas empresas no mercado local detentora da qualidade e do rigor técnico necessários ao cumprimento dos prazos estabelecidos.

“Depois de terem construído mais de 10 refinarias no Brasil, com capacidade entre 100 mil a 400 mil barris de petróleo/dia, e pelo que já fizeram em Angola, certamente não terão agora dificuldade alguma em pôr à prova a sua capacidade técnica para recuperar o tempo perdido e entregar a primeira fase da obra em julho do próximo ano”, disse ao Expresso fonte do Ministério angolano das Obras Públicas.

O regresso da Odebrecht às grandes obras no país ocorre depois de um longo processo de renovação, que incluiu um exaustivo monitoramento externo feito pelo Departamento de Justiça norte-americano, que durante três anos passou a pente fino os seus mecanismos de gestão e de controlo.

Este regresso culminou com a emissão, no ano passado, de uma certificação de eficiência do seu sistema de conformidade por uma entidade internacional independente, que serviu agora de pré-requisito para a Gemcorp apostar na Odebrecht para assumir a obra de Cabinda.

Após as investigações sobre casos de corrupção no âmbito da Operação Lava Jato que provocaram graves danos financeiros e reputacionais à sua imagem, a empresa foi obrigada a adotar apertados mecanismos de controlo e de anticorrupção, os quais asseguraram a conclusão da monitorização externa.

“A conclusão da monitorização, a renovação da companhia e a homologação da reestruturação financeira marcam um novo momento, que nos vai permitir alavancar mais emprego e angolanizar ainda mais o sector da construção e das obras públicas”, sublinhou uma fonte da Odebrecht.

A ausência de qualquer queixa-crime facilitou também o seu regresso ao mercado angolano. “Não temos nenhum processo, nem há nenhuma investigação à sua atividade”, garantiu ao Expresso fonte da Procuradoria-Geral da República.

Depois de contratualizada a presença da Omatapalo e da Griner, as autoridades angolanas encaram agora a possibilidade de ver transferida para a barragem de Caculo Cabaça — uma gigantesca obra avaliada em 4100 milhões de dólares —, em regime de subcontratação por parte dos chineses, o vasto corpo de técnicos especializados da Odebrecht que esteve envolvido na construção da barragem de Laúca.

“Os excelentes resultados obtidos na construção desta e das outras barragens dão-nos a garantia de que, através de uma boa parceria com os chineses, devemos aproveitar a sua experiência para agregar valor à construção da barragem de Caculo Cabaça”, disse ao Expresso um alto responsável do Ministério angolano da Energia e Água.

Texto: Expresso (Gustavo Costa)

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