Através de campanhas subtis, redes sociais e media locais, a Rússia fortalece a sua influência em África.
A empresa de Cornelissen analisa as redes sociais para clientes políticos e comerciais, incluindo institutos de pesquisa, e tem acompanhado as campanhas russas. Segundo ele, “existe uma rede global de contas-chave interligadas com contas influentes no contexto africano. A partir delas, influenciadores locais em cada país assumem as mensagens e adaptam a narrativa ao contexto regional”.
Beverly Ochieng, investigadora do programa de África do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Dacar, confirma esta abordagem. “Se um grupo de direitos civis no Mali faz uma publicação em bambara, não parece que venha de um agente estatal russo. Parece uma opinião auténtica de alguém que fala a língua local e compreende as preocupações da população”, explica Ochieng à DW.
Diferentemente das “fábricas de trolls” remotas, muitos destes conteúdos são agora produzidos por pessoas da própria região, que conhecem as particularidades linguísticas e culturais. Cornelissen refere-se a estes indivíduos como “nano-influenciadores” e documentou a sua atividade na África do Sul. “Todos são pagos. E se pagarmos a mil pessoas 200 rands (cerca de 10 euros) cada, obtemos uma campanha muito económica para fixar uma narrativa num único dia”, explica.
Para o jornalista angolano Santos Vilola, Angola pode estar entre os países africanos mais vulneráveis à disseminação de propaganda pró-Rússia sobre eventuais vantagens de uma “aliança” com o regime de Moscovo.
Segundo escreve, nas redes sociais, nunca o que se passou ou se passa no Mali, no Niger ou no Burquina Faso esteve tão presente para internautas angolanos.
Para o jornalista, Ibrahim Traoré, por exemplo, é tido por usuários de redes sociais como um modelo de líder que qualquer país africano precisaria.
Circulam com regularidade partilhas sobre suas acções e feitos revolucionários num país que rompeu com o França-Afrique.
Essa “publicidade” de estilo inocente e inofensiva pode ter origem em operacionais pró-Rússia nas redes sociais. A Rússia está presente militarmente nestes países e domina a informação e comunicação convencional e na Internet.
ARússia não se limita a criar estruturas encobertas nas redes sociais, investindo também em canais próprios. Na República Centro-Africana, um “laboratório” da influência russa em África, é amplamente conhecido que a rádio Lengo Songo foi criada por agentes russos em 2018. Em novembro de 2024, uma investigação jornalística europeia revelou que um denunciante centro-africano, após fugir do país, descreveu como fornecia conteúdo pró-russo ao canal.
O canal estatal russo RT também é utilizado para disseminar narrativas pró-russas. Proibido em muitos países ocidentais, como a Alemanha e a UE, a RT anunciou em 2022 a criação de um centro mediático em inglês na África do Sul, que já está operacional e disponível por satélite em vários países africanos.