InícioEm DestaqueImpugnação de Adalberto: UNITA está a beber do próprio veneno

Impugnação de Adalberto: UNITA está a beber do próprio veneno

Em 1992, no decurso da campanha para as primeiras eleições livres em Angola, a UNITA lançou dúvidas sobre o país de nascimento de José Eduardo dos Santos para a praça pública, insinuando que o líder do MPLA era originário de São Tomé e Príncipe, condição que o impediria de ser candidato à presidência.

Segundo o jornalista português Celso Filipe, este mujimbo perdurou no tempo e em 2012 o deputado da UNITA, Makuta Nkondo, questionou a nacionalidade do então Presidente da República, acção que lhe valeu uma censura parlamentar.

“Estou a dizer que parece que todos nós queremos conhecer a aldeia de origem de Eduardo dos Santos. Mesmo os turistas. Quem não gostaria de visitar a aldeia de um Presidente da República”, afirmou na altura o deputado citado pela Voz da América, sublinhando que o chefe de Estado poderia apresentar a sua certidão de nascimento e esclarecer todas as dúvidas de uma vez por todas.

Agora, a nacionalidade de um líder político angolano volta a ser questionada. Desta vez a “fava” saiu ao presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, e o propósito é o mesmo, impedir que seja candidato nas eleições de 2022.

Este caso também já tem dois anos, mas no passado dia 16 de agosto conheceu um desenvolvimento relevante, materializado no facto de o Ministério Público ter dado provimento ao pedido de impugnação da eleição de Adalberto Costa Júnior à presidência da UNITA, sob alegação de que ficou provado nas provas apresentadas pelos requerentes da petição que, à data da apresentação da referida candidatura ao cargo, o actual líder do “Galo Negro” era ainda cidadão português.

Para o também director-adjunto do Jornal Negócios, a decisão final está agora nas mãos do Tribunal Constitucional (TC), também envolto em polémica, devido à circunstância de João Lourenço ter nomeado, para a presidência deste órgão, Laurinda Cardoso, ex-secretária de Estado para a Administração de Território e membro do comité político do MPLA, funções que agora suspendeu.

Escreve que a opção por Laurinda Cardoso, em substituição de Manuel Aragão, que se demitiu do cargo por discordar das decisões tomadas pelo colectivo de juízes do Tribunal Constitucional sobre a revisão pontual da Constituição angolana, abre a porta da suspeita. Segundo os críticos, esta indigitação tem como finalidade validar a impugnação da eleição de Adalberto Costa Júnior, impedindo assim que este seja o cabeça de lista da UNITA às eleições gerais de 2022.

Esta possibilidade constituirá um autêntico “tiro no pé” para João Lourenço, o qual ferirá com gravidade a sua imagem junto da comunidade internacional. O chefe de Estado tem apostado em marcar a diferença face ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos, sobretudo através da luta contra a corrupção e do acordo feito com o FMI, tendo ganho capital de confiança.

Caso se consuma esta jogada de secretaria para retirar Adalberto Costa Júnior das eleições, toda a credibilidade conseguida pelo atual Presidente será desbaratada pela sensação de que ele e o MPLA têm medo do seu rival político. Ou seja, será um retrocesso inesperado que acabará, de uma vez por todas, com a narrativa de que João Lourenço é um líder genuinamente diferente e plural.

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