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Rússia envia tanques e homens para a fronteira com a Ucrânia. A guerra vai voltar? Onde anda a NATO?

A Rússia está a acumular tropas e arsenal bélico na fronteira com a Ucrânia. Regressa o medo de que o conflito que já matou pelo menos 13 mil pessoas possa voltar à província de Donbass ou, até, escalar para territórios adjacentes.

Os aliados da Ucrânia no Ocidente prometem ajudar, proteger, vigiar, mas não prometem o que o Presidente ucraniano mais tem pedido: adesão à NATO. Porquê? E por que razão se assiste agora a uma escalada no conflito?

Tropas em exercício, arsenal bélico e tanques em movimento ao longo da fronteira. Na última semana de março, os receios de que a guerra no leste da Ucrânia, que opõe o exército ucraniano a separatistas pró-Rússia e verdadeiramente nunca terminou, pudesse estar prestes a recomeçar ganharam força.

Os russos garantem que não estão a planear nenhum ataque, mas as pessoas na província de Donbass, hoje controlada por separatistas russos, já voltaram a reabrir os abrigos antiaéreos para verificar se ainda estão em condições de voltarem a ser usados.

Na semana passada, o chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Ruslan Khomchak, veio pôr um número nesses receios ao dizer no parlamento ucraniano que a Rússia tem já dispostos ao longo da fronteira 28 batalhões, qualquer coisa como 25 mil homens. Esta informação não foi confirmada pelos russos mas a pressão está a aumentar e isso já poucos negam.

“Temo que sim, que esse risco de regresso das agressões exista. A mim, a situação parece-me um pouco semelhante ao prelúdio da Guerra Rússia-Geórgia de 2008. Então, a luta foi iniciada pela Geórgia [contra a Ossétia do Sul], mas a Rússia tinha-se preparado para a guerra, quer logisticamente, quer nos meios de comunicação social. Pode ser que a liderança russa esteja agora à espera que a Ucrânia tome alguma providência para justificar um ataque russo, ou ostensivamente liderado por milícias apoiadas pela Rússia”, diz ao Expresso Ramus Nilsson, professor de Política Externa da Rússia na University College de Londres.

Na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri S. Peskov, reconheceu o recente aumento nos combates [tradução via Google Translate], que fizeram quatro mortos entre as forças ucranianas e disse que “a Rússia espera sinceramente” que não se registe uma escalada do conflito. A luta, disse, está “a anular as modestas conquistas feitas anteriormente”. O cessar-fogo, segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), é todos os dias quebrado – às vezes dezenas de vezes por dia.

Em 2014, as duas zonas de Donbass – Donetsk e Luhansk – declaram-se repúblicas populares, mas não são reconhecidas pela comunidade internacional. Em dois referendos, realizados pelos próprios separatistas, a população votou esmagadoramente pela união com a Rússia (89% em Donetsk e 96% em Luhansk) mas há dezenas de alegações de fraude, e até uma gravação obtida pelos serviços de informações da Ucrânia em que, alegadamente, o líder dos paramilitares de extrema-direita Unidade Nacional, Alexander Barkashov, fixa, numa chamada para as lideranças em cada zona, as percentagens que deseja que apareçam no fim da contagem de votos. Outros, opostos à anexação, votaram três vezes só para provar o nível de descontrolo do referendo.

Na Ucrânia, o Parlamento aprovou na terça-feira uma declaração onde reconhece que o cessar-fogo negociado em julho se havia rompido – e frisou também o “aumento significativo de bombardeamentos e provocações armadas pelas forças da Federação Russa”.

Por que razão está o conflito a escalar agora? Os especialistas que têm escrito sobre a matéria concordam num aspecto: o conflito ou a ameaça dele tem funcionado bem como manobra de diversão para os governos de Vladimir Putin, Presidente da Rússia.

“A anexação da Crimeia beneficiou a popularidade do regime há sete anos e sabemos que há eleições parlamentares no fim do ano. Além disso, a liderança russa parece um tanto destituída de ideias para o desenvolvimento do país sob a liderança de Vladimir Putin. Desde que ele foi reeleito presidente em 2018, a militarização parece ser a estratégia de eleição para a política externa, e isso depois acaba por distrair as pessoas de alguns problemas internos para os quais não tem havido soluções”, diz Rasmus Nilsson, que foca ainda um outro ângulo que pode justificar o agudizar do conflito: “Há também a possibilidade de que o regime esteja a tentar explorar uma situação em que os membros da NATO estão foram distraídos pela pandemia e os EUA, mesmo sob o governo de Joe Biden, parece ainda um tanto isolacionista”.

E depois há as razões de pura tática de conquista territorial: “Há áreas específicas no sudeste da Ucrânia que, se forem atacadas, a Rússia pode ser capaz de ligar o leste da Ucrânia com a Crimeia”.

Há meses que a Rússia lida com protestos pró-democracia – e também há notícias que nos falam da quebra de confiança dos russos no seu presidente.

Segundo a empresa de sondagens russa Levada, o índice de aprovação de Putin caiu drasticamente após um movimento impopular para aumentar a idade da aposentação em 2018, apesar de ter depois recuperado até estabilizar nos 68% no fim de 2019. Apesar dessa recuperação, a confiança do público em Putin continuou a diminuir e em janeiro de 2020 atingiu 35%, uma queda acentuada dos 59% registrados em novembro de 2017. Denis Volkov, sociólogo na Levada, disse à Reuters que os níveis atingidos em janeiro são os mais baixos desde que, em 2014, a anexação da Crimeia levou a confiança em Putin a disparar.

Pavel Baev, do Instituto para a Paz de Oslo, não acredita que esta decisão esteja ligada “nem às sondagens nem ao descontentamento público” porque Putin “sabe que pode suprimir quaisquer protestos na situação atual”. Na opinião do especialista, “esta crise aponta antes para o desejo de Putin de provar que ele é capaz de fazer a diferença no cenário europeu e não pode ser votado ao ostracismo como um bandido qualquer”.

PARA QUANDO A ADESÃO À NATO?

 Depois da morte dos quatro soldados ucrânianos, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, lançou-se então numa ronda de telefonemas para vários líderes fortes no seio da NATO, tais como o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para lhes pedir um apoio claro à aceitação, o mais rapidamente possível, da Ucrânia na NATO. Johnson disse que a Ucrânia tem “o apoio total” do Reino Unido e que as movimentações da Rússia são “bastante preocupantes” mas nada de mais concreto se ouviu.

Esta terça-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, ligou ele mesmo a Zelensky para expressar “profunda preocupação” com as atividades russas perto da fronteira e com as “constantes violações do cessar-fogo”. E nada mais adiantou, mais nada prometeu.

Expresso

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