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Unita e Governo: as razões de cada um para os acontecimentos de sábado

Agora que a tempestade de areia começa a amainar e a poeira, finalmente, a assentar é hora de fazer uma análise, ainda que à vista desarmada, capaz de elucidar a cada um de nós a razão de ser dos acontecimentos do sábado zaragateiro, ou, sendo mais exacto, do dia 24 de Outubro de 2020.

Assim, sem recurso ao microscópio, a conclusão mais sensata é a que atribui razão aos principais intervenientes, o Governo, por um lado, e a Unita, por outro, ainda que esta se mantenha algo escondida sob a capa de uma tal de sociedade civil.

Por um lado, tem razão a Unita em promover uma manifestação, ancorada em múltiplas palavras de ordem das quais se pode aduzir a essencial: melhorar as condições de vida das pessoas; por outro lado, tem razão o Governo, apesar dos métodos pouco convencionais a que recorreu, ao tentar no máximo impedir a concentração de pessoas num mesmo espaço e evitar situações propícias à expansão do coronavírus. Em suma, a acção do Governo pode ser resumida no seguinte objectivo: salvar vidas de pessoas.

Há, portanto, nas boas intenções, dessas de que se encontra cheio o inferno, manifestas quer pela Unita, quer pelo Governo, um denominador comum que se acha em três palavras: salvar vidas de pessoas. Por isso, há nobreza nas acções de cada uma das partes, seja da Unita, ao pressionar pela melhoria das condições de vida, seja do Governo, ao tentar evitar que a pandemia ceife mais vida de angolanos.

Porém, como tudo na vida, o processo decisório implica a escolha clara das prioridades adequadas às circunstâncias e aos resultados esperados. Ou seja, qualquer uma das partes envolvidas equacionou, com certeza, os seus objectivos supremos face a que se propuseram realizar.

Na sequência, facilmente se conclui quais eram os objectivos das autoridades governamentais. E estão necessariamente presos à necessidade de se travar a progressão da pandemia, evitar o colapso das unidades hospitalares de um sistema de saúde já de si débil e, por conseguinte, aliviar a multiplicação de perdas de vidas humanas todos os dias.

Do lado oposto, onde se acha a Unita não estão claros os objectivos definos. O que queria atingir o partido numa altura tão delicada como essa? Que mensagem procurou passar? E seria este o momento mais adequado para passar tal mensagem de forma tão ostensiva como fê-la passar?

A resposta, para qualquer uma destas perguntas, também não está longe da visão comum. Afinal, a pandemia é um facto, os seus efeitos nefastos para a economia, para os sistemas hospitalares e, sobretudo para a vida das pessoas, também o são.

As contaminações são crescentes, as perdas de vidas humanas se multiplicam dia após dia. Logo, o sensado era, nesta altura, apoiar os esforços nacionais, buscando novas formas de pressão política que não pusessem em causa a segurança das comunidades, a vida das pessoas e que não transformassem em escudos humanos a sua jovem massa de apoiantes em nome de interesse de grupos que acompanharam a agitação e os riscos decorrentes no conforto dos divãs das respectivas residências.

É justamente aqui onde se acha o falhanço dos estrategas da Unita. Ora embevecidos pela vitória sobre a acação atabalhoada do Governo, pelas prisões e pelos estragos que os furiosos manifestantes ousaram provocar, os organizadores da manifestação saltam de júbilo pelos feitos alcançados. Mas é apenas uma vitória de Pirro. Ou, como diz o dito popular, a alegria de pobre dura pouco.

Logo, as consequências da arruaça do passado sábado serão reflectidas em números a testemunhar o crescimento da pandemia no País, sobretudo em Luanda, com a alta possibilidade de membros da organização virem a ser infectados.

Facilmente, a Unita descambará do pedestal de ousadia em que se colocou para a rasteira condição de organização irresponsável e, claro, de verdadeiro bode expiatório do crescimento de casos em Luanda, concretamente nos municípios de onde partiram os manifestantes.

Teria, no fundo, ganho maior se a liderança da Unita tivesse tido a coragem de cancelar a manifestação. Mostrar-se-ia com uma face de responsabilidade, de aliança ao esforço nacional para salvar vidas de angolanos, apostando em métodos de pressão mais adequados ao momento de limitações transversal a todos os países do Mundo. Mas não.

A turma dos maninhos optou, mais uma vez, por colocar-se na contramão do tempo, manifestamente de responder às seguintes questões de um milhão de dólares: o que conseguiu, na prática, com a manifestação de sábado? Não se poderia passar a pressão para um momento mais conveniente? Valeu a pena colocar em risco a vida daqueles jovens?

E, por fim, acredita mesmo que, num passe de mágica, o Governo vai criar mais empregos e convocar as eleições autárquicas conforme a vontade dos manifestantes e seus maestros? Se não temos elementos para responder às primeiras perguntas, para essa última não precisamos de microscópio. A resposta é óbvia é um redondo não. Logo, é momento para os organizadores Da manifestação terem a epifania de quão vão acabou por ser todo aquele esforço.

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