2008 estádio dos Coqueiros em Luanda, momento tão especial da minha vida e tu estavas lá mana, cantamos nos meus 20 anos de carreira o tema “ Riqueza e valor “ de Mendes & Mendes ( Boy G ). Em 1999 gravamos o tema “ Nzambi” no meu álbum “ Recompasso “ e no teu álbum “ Fitxadu “ gravamos o “ Flutuar”. No nosso desapego tivemos tantos momentos de irmandade, amizade e admiração pura, só assim, por querer estar junto e que estão gravados na minha mente e no meu coração. A última vez que me visitaste aqui em casa vieste com o teu cão, o Lisboa e ainda me contaste como te rias de ti própria, quando querias dizer uma palavra e saia-te outra, contaste-me naquele teu jeito doce que te rias de ti própria, quando te davas conta desse erro. Lembro-me de te perguntar como conseguias levar as coisas dessa maneira tão leve e generosa, ao que me respondeste, o que queres que eu faça mano? Não tem outra maneira de levar. Todos nós os teus de dentro do dentro,por te conhecer tão bem, temos até algum pudor em falar de ti e do que significas pra nós todos, mas não queremos também deixar esse espaço para quem de ti não bebeu, não aprendeu, não te conheceu de perto, venha agora tentar explicar-te, tu que sempre foste e serás inexplicável para quem não te sentiu. Então por ti, por nós,os teus, tenho de falar da nossa dor, da nossa perda e do incrível vazio que deixas nas nossas vidas. És tu a mãe desta Lisboa Crioula, que soltou as amarras dos traumas da descolonização e pôs todas as raças a beijar na boca, a misturarem as línguas e as linguagens, o bué com o cretcheu, o mi ku bô, bô ku mi, com o te amo, eu te preciso, o One Love com o chamar a música, tu que nos cantaste que “ não há nada que levar a mal, ma nós é tude igual “ e no teu balance da dança, onde todos fomos crianças, sendo crianças, crianças. Descansa em paz mana minha, por aqui vamo-nos consolando com as tuas músicas, palavras e melodias na memória do teu incrível “ Bom feeling “. Guerreira de uma doçura,voz e talento ímpar, desarmante e inquestionável na forma e no pensamento. Para sempre nos nossos corações mana Luz.
Texto/ Artigo Paulo Flores publicado in Blitz e Expresso 🤍