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Rússia já apreendeu 50 mil milhões de dólares em ativos

As autoridades russas confiscaram ativos no valor de cerca de 50 mil milhões de dólares nos últimos três anos, evidenciando a escala da transformação do modelo económico da ‘fortaleza russa’ desde que teve início a invasão da Ucrânia. O conflito foi acompanhado por uma transferência significativa de ativos, já que muitas empresas ocidentais fugiram do mercado russo – com os seus patrimónios a serem expropriados pelo Estado ou, na melhor das hipóteses, a serem vendidos em saldo no interior do mercado russo.

Em resposta ao que a Rússia chamou de ações ilegais do Ocidente – que também tratou de se apossar de ativos russos parqueados em praças ocidentais – o presidente Vladimir Putin assinou decretos nos últimos três anos permitindo a apreensão de ativos do ocidente, envolvendo empresas que vão da alemã Uniper à cervejaria dinamarquesa Carlsberg.

Além dos ativos ocidentais, grandes empresas nacionais mudaram de mãos com base em diferentes mecanismos legais, incluindo a necessidade de recursos estratégicos, alegações de corrupção, supostas violações de privatização ou má gestão.

Um escritório de advocacia de Moscovo, o NSP (Nektorov, Saveliev & Partners) disse, citado pela agência Reuters, que a escala do que chamou de “nacionalização”, totalizou 50 mil milhões de dólares. Nos seus primeiros oito anos no poder, Putin apoiou abertura económica, mirou em alguns dos chamados oligarcas e presidiu a um crescimento significativo da economia – o que levou as grandes empresas e marcas ocidentais a acorrer a essa abertura. Ficará para sempre célebre a abertura do primeiro restaurante McDonald’s em Moscovo!

No período de 2008 a 2022, a economia russa cresceu significativamente, embora as sanções ocidentais a tenham atingido duramente depois da anexação da Crimeia em 2014, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional. Mesmo assim, a economia teve um desempenho melhor do que o esperado durante a guerra na Ucrânia, mas a sua dimensão nominal em dólares em 2024 era de apenas 2,2 triliões, de acordo com dados do FMI, um pouco abaixo dos 2,3 triliões de 2022 – mas muito menor do que a China, a União Europeia ou os Estados Unidos.

Autoridades russas dizem que a guerra na Ucrânia — o maior confronto com o Ocidente desde o auge da Guerra Fria — exigiu medidas extraordinárias para evitar o que dizem ter sido, e foi de facto, uma clara tentativa ocidental de afundar a economia russa. Putin afirma que a saída de empresas ocidentais permitiu que produtores nacionais ocupassem o seu lugar e que as sanções ocidentais forçaram o desenvolvimento das empresas nacionais. E defendeu um “novo modelo de desenvolvimento” distinto da “ultrapassada globalização” – que pouco depois o presidente Donald Trump se encarregaria de aprofundar.

Mas a economia de guerra, voltada para a produção de armas e o apoio a um longo conflito com a Ucrânia, colocou o Estado numa posição muito mais poderosa que as empresas privadas russas. E isso cria um desequilíbrio que, segundo os técnicos, não só é perigoso, como colocará em causa a recuperação quando a guerra acabar.

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