O preço do cimento para o consumidor final subiu cerca de 33% nos últimos meses, apesar de as fábricas manterem estáveis os valores de venda à porta da indústria. A escalada de preços é atribuída, segundo especialistas e agentes do setor, a um monopólio informal na distribuição, dominado por um pequeno grupo de empresas que controla o fluxo do produto desde as cimenteiras até ao retalho.
Até agosto de 2025, um saco de 50 kg de cimento Portland o mais utilizado na construção civil custava menos de 8.000 Kz no mercado informal. Hoje, o mesmo produto chega a quase 10.000 Kz, penalizando famílias, pequenos construtores e grandes empreendedores imobiliários.
Fontes do setor industrial confirmam que os preços nas fábricas não sofreram reajustes desde o início do ano, mesmo com a recente queda na produção nacional, impulsionada pela paralisação parcial da fábrica da CIF a maior unidade produtiva do país, com capacidade instalada de 8,5 milhões de toneladas/ano, mas operando atualmente abaixo de 50% dessa marca.
“A fábrica vende ao mesmo preço. Quem está a inflacionar é o distribuidor”, denuncia um construtor ouvido pelo Expansão. “Eles compram diretamente às cimenteiras, em grandes volumes, e depois ditam o preço no mercado. Não há concorrência real.”
Segundo uma fonte de uma das principais cimenteiras angolanas, “um número reduzido de empresas controla a comercialização pós-fábrica, o que lhes dá poder de fixar preços acima do permitido pela lei”.
A situação é agravada pela proibição da importação de cimento e clínquer, medida imposta por decreto governamental. A Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC) já criticou essa restrição, destacando, em seu Relatório sobre a Avaliação do Perfil Concorrencial de Políticas Públicas no Subsector da Construção Civil (2023), que tal medida “distorce a concorrência” e limita a liberdade das empresas em escolher suas fontes de abastecimento.
Com a produção interna em queda e sem alternativas de importação, a oferta encolheu, enquanto a procura cresceu especialmente nesta época do ano, quando os angolanos recebem subsídios e bónus e retomam obras residenciais.






