O país está a pouco mais de 2 anos do próximo ciclo eleitoral, que ditará a continuação, ou não, do MPLA no poder, e a ascensão, ou não, da UNITA ou de qualquer outra força política ao poder.
Embora inimagináveis, os resultados das eleições de 2027 já autorizam, contudo, uma certeza antecipada: o Presidente João Lourenço não estará entre os vencedores ou derrotados. Constitucionalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato consecutivo, nessa altura João Lourenço será, já, uma carta fora do baralho.
Estranhamente, a contagem decrescente para as próximas eleições tem coincidido com um cada vez mais estridente barulho de um grupo de terroristas digitais, que empurram o Presidente da República para promover uma ruptura constitucional.
Em escritos diários, o grupo de terroristas implora ao Presidente da República a imediata “dissolução do Parlamento, a marcação de eleições para uma Assembleia Constituinte, com novos Partidos de matriz ideológica formalizados durante um ano, discutir e aprovar uma Nova Constituição durante um ano, e de seguida eleições gerais para o governo nos moldes em que a Nova Constituição adoptar”.
Até lá, pregam os terroristas, “com prazos bem definidos, teremos um Governo de iniciativa presidencial até que com a Nova Constituição tome posse o primeiro governo da Nova República”.
“Ao assumir a liderança deste processo”, diz o manual dos terroristas, o Presidente da República “demonstra não apenas autoridade constitucional, mas também sensibilidade histórica”.
A “Nova República”, a designação eufemística que os terroristas digitais atribuem ao golpe constitucional, seria a resposta a esses tempos em que o “descontentamento cívico e a desconfiança nas instituições se tornam cada vez mais evidentes”.
Ou seja, ao clamor popular contra violenta carestia de vida, o Presidente da República e Titular do Poder Executivo deve responder não com políticas que diminuam o sofrimento das pessoas, mas com a dissolução da Assembleia Nacional, dos partidos políticos e outras medidas que capturem até mesmo os poucos simulacros de democracia que o próprio regime criou.
O que o grupo terrorista persegue ruidosamente é uma ruptura constitucional que impossibilite, de todo, a realização de eleições em 2027, às quais, repete-se, o Presidente João Lourenço já não estará habilitado a disputar.
Sem razões plausíveis para sustentar a disrupção constitucional que prega, o grupo terrorista agarra-se desesperadamente a tudo.
No sábado passado, 19, o programa Conversas Essenciais levou a debate ocaso dos generais Kopelipa e Dino Fragoso, dois antigos colaboradores muito próximos a José Eduardo dos Santos, cujo julgamento e condenação deveriam ser tomados como um marco na dita luta contra a corrupção.
As dificuldades do Ministério Público de sustentar as acusações contra os dois arguidos, abundantemente expostas nas Conversas Essenciais, deram ao grupo terrorista pretexto para uma afónica gritaria a favor do golpe.
Afirmando ser “evidente que o PGR fez, neste processo, o que tem feito habitualmente, prejudicando o verdadeiro combate à corrupção”, o grupo terrorista termina o apelo golpista com a mesma e repetida receita:
“A aceleração do processo de formação da Nova República é urgente. O presente estado de coisas não tem outra solução que não seja uma ruptura constitucional e sistémica”.
Com dignidade constitucional, as manifestações pacíficas e a liberdade de expressão têm sido cada vez mais cerceadas.
Às manifestações pacíficas que tomam as ruas das principais cidades do país nos fins de semana, a Polícia tem reagido com provocações e demonstrações de músculo militar.
As limitações às manifestações e à liberdade de expressão são elas mesmas elementos de ruptura constitucional. Ou seja, o golpe já está em marcha.
Apenas cidadãos desavisados e os partidos políticos do faz de conta ainda não perceberam que Angola pode não ter eleições em 2027.
Graça Campos – Jornalista (In Facebook)