Opinião

Homicidas Premiados

Atenção, muita atenção! O sociólogo Paulo de Carvalho entrou a pés juntos no negócio das condecorações dando uma mão atabalhoada ao condecorador implacável. Como sempre, mistura uns quantos lugares comuns com disparates de cátedra. Quem o ouvir ou ler compra logo. Ma leva fuba podre e peixe apodrecido. Este artista, antes de pendurar ao pescoço o tacho de deputado, foi consultor da Assembleia Nacional. Diretor do Centro de Imprensa Aníbal de Melo. Corrido de reitor da Universidade Katiavala Buila. Consultor de ministros. Vendedor de “sondagens”. Um portento.

Num lençol quilométrico publicado no Club K, órgão oficial da UNITA (Sipaios da Jamba) e oficioso do Sipaio da Damba, Paulo de Carvalho escrevinha balbuciante: “Uma vez que se trata, agora, de comemorar os 50 anos da independência, nada mais justo que recordar os três maiores ícones desse processo de luta pela auto-determinação dos povos de Angola (coisa que ainda não ocorreu, após 2002).”. Este aborto inviável é deputado da Nação, eleito nas listas do MPLA e confunde Povo Angolano com “povos de Angola”. 

Mas não é um acaso. Nas discussões dos deputados sobre a Constituição da República de 2010, os Sipaios da Jamba queriam incluir na Lei Fundamental a expressão “Povos de Angola” em vez de Povo Angolano. Paulo de Carvalho nessa altura devia ser “consultor” do Galo Negro. Onde fareja dinheiro e tacho, está lá!

O consultor para toda a colher escreve este inulto soez à memória de Agostinho Neto, fundador da Nação Angolana, e a todos os patriotas angolanos: “Enquanto líderes, Holden, Neto e Savimbi assumem a responsabilidade pela morte de milhares de angolanos, seja no decurso da luta armada pela independência, seja após a proclamação dessa mesma independência. Se, entretanto, o critério a adoptar fosse a exclusão de todos quantos têm mortes de angolanos na consciência, então nenhum dos três seria condecorado. Nem eles, nem muitos dos que receberam este ano medalhas do PR ou medalhas das Forças Armadas”.

Que declaração de Agostinho Neto leva o deputado do MPLA a dizer que o Fundador da Nação “assume a responsabilidade pela morte de milhares de angolanos”? Que documento por ele assinado atesta tão leviana e falsa afirmação? Vou traduzir o inulto da besta insanável: Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos não prestam. O único presidente que vale é João Lourenço que me deixou ir ao pote e à caixa das bolachas. Um títere rastejante.

O consultor viciado em tachos faz uma concessão: “A pena de morte só acabou em Angola, com a subida ao poder do Presidente José Eduardo dos Santos (honra lhe seja feita).” Verdade. No ano de 1979, quando foi investido no cargo de Presidente da República, O novo Chefe de Estado propôs à direcção do MPLA a abolição da pena de morte. Aprovada a proposta que já vinha de trás. O golpe militar do 27 de Maio foi uma tragédia que marcou todos.

Paulo de Carvalho em 1977 ainda estava muito verde. Não tinha tachos pendurados ao pescoço nem padrinhos na cozinha. Por isso não sabe o que aconteceu. Só conhece o que lhe meteram na cabeça. Os membros da direcção política e militar do golpe foram julgados em Tribunal Marcial que funcionou no Ministério da Defesa. Até existiu uma espécie de Tribunal de Apelo, conhecido como “Comissão das Lágrimas”. 

O que passa pela cabeça deste reptil de cátedra para misturar as fogueiras da Jamba com a repressão de um golpe de estado militar integrado na Operação Cobra ou Natal em Angola, dirigido por polícia secretas estrangeiras? 

O que leva este indigente mental a comparar as regras de uma organização revolucionária que fez a luta armada contra os ocupantes estrangeiros, com as actividades de um assassino cruel, declarado criminoso de guerra pelos deputados da Assembleia Nacional, pelos Chefes de Estado e de Governo da SADC e pela ONU? Sigam o cheiro do dinheiro.

Angola em 1977 era uma democracia popular e imperava o socialismo. Um Estado Revolucionário. Estavam em vigor as regras do tempo da Luta Armada. Deserção, delação e traição eram condenadas com a pena capital. Se o MPLA ainda tivesse hoje essas regras, o deputado Paulo de Carvalho era acusado de alta traição e sofria as consequências. Mas é apenas a voz titubeante e disparatada do condecorador implacável. 

Quem liderou o golpe do 27 de Maio foi condenado a fuzilamento por alta traição à Pátria. Os golpistas decapitaram o comando das FAPLA quando o país estava em guerra contra invasores estrangeiros. Querem saber porquê? O general Pétain colaborou com a Alemanha Nazi e no final da guerra foi condenado à morte por alta traição à França. A pena foi comutada para prisão perpétua, tendo morrido na prisão em 1951, aos 95 anos.

Hoje 55 países ainda têm pena de morte. Os EUA anunciaram que executaram uma pena de morte com novo método, o gás nitrogénio. Os japoneses continuam a executar a pena de morte por enforcamento. Inglaterra e País de Gales (Reino Unido), Holanda, Eslováquia, Bulgária, Itália, Hungria e República da Irlanda têm prisão perpétua. 

A Bélgica em 1996 e o Reino Unido em 1998 aboliram a pena de morte, quase 20 anos depois de Angola.  Chipre (2002), Grécia (2004), Albânia (2007) Holanda/Países Baixos (2010), Letónia  (2012), Bósnia-Herzegovina em 2019 só aboliram a pena de morte neste século XXI.

As condecorações, diz Paulo de Carvalho, “servem para promover um indispensável processo de reconciliação nacional, cujas principais consequências são (1) o perdão, (2) a convivência política sadia e (3) a convivência social harmoniosa entre os angolanos antes desavindos e agora reencontrados”. 

Muito bem. Então seguem a mesma lógica do consultor Paulo de Carvalho e além de Jonas Savimbi também condecoram todos os criminosos condenados por homicídio. Em nome do perdão, da convivência política sadia e da convivência social harmoniosa, ninguém mais é condenado. Acabaram os crimes. És criminoso de guerra? Toma lá perdão e condecoração. És traidor? Toma lá um tacho e estás perdoado. Andaste aos tiros contra a democracia durante dez anos? És o santo padroeiro do Paulo de Carvalho! 

O vice-presidente dos EUA e Marco Rubio já conseguiram um feito notável. O parlamento de Israel acaba de aprovar a anexação da Cisjordânia. E o Rubio: Eles são uma democracia, eles é que sabem. Entretanto os nazis de Telavive continuam a matar na Faixa de Gaza. 

Artur Queiróz (Jornalista – In Página Global)

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