Garcia Miala, atual chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), perfila-se, simultaneamente, como uma das figuras agora associadas ao plano de sucessão presidencial concebido por JLO.
A decisão de realizar um Congresso extraordinário no final de 2024, fora do ciclo estatutário, foi interpretadada como uma manobra para reforçar o controlo interno e moldar a transição futura. As mudanças aprovadas nos estatutos permitem que o presidente do MPLA não seja necessariamente o candidato presidencial, abrindo caminho para que JL mantenha o comando partidário mesmo após o fim do seu mandato.
O discurso em torno da escolha de um “jovem sucessor” tem sido interpretado como tentativa de neutralizar ambições de veteranos como Fernando da Piedade Dias dos Santos (“Nandó”) e Higino Carneiro, ambos antigos dirigentes com peso político. Com menor expressão, apresentam-se Valdir Cónego, membro do Comité Central do partido, e António Venâncio, que tentará concorrer pela segunda vez, após ter visto a sua candidatura rejeitada anteriormente.
O África Monitor recorda que JLO vinha denotando inclinação por Manuel Homem como figura do regime pela qual se quer fazer substituir como candidato do MPLA em 2027. A proximidade de FGM também dariam a MH o estatuto de candidato do chefe do SINSE.
A sua ascensão política foi evidentemente patrocinada por JLO, para cargos de grande visibilidade (governador de Luanda e ministro do Interior), com atenção especial dos principais órgãos de comunicação social controlados pelo regime.
A imagem de MH ficou internamente comprometida com a alegada inércia da Polícia Nacional (PN) e em geral a sua gestão dos tumultos de 28 -29.JUL. Foi necessária a intervenção do próprio JL para contenção dos protestos.
As alas que no MPLA e no seu regime contestam JL, fazem-no invocando argumentos com base nos quais consideram aconselhável a sua retirada no termo dos seus mandatos.
O seu entendimento é o de que JL não revelou qualidades gerais para os cargos de presidente do MPLA e PR, a isso acrescentando “problemas de carácter” para os quais remetem a origem de tendências de perseguição e vingança actualmente cultivadas.
Também consideram imoral que JL defenda interesses (a sua continuação no poder) que reprovou no seu antecessor.
Com a provável recondução na presidência do MPLA, JL terá de indicar um candidato que não revele sinais de pretender tomar-lhe a liderança do partido – à semelhança do que fez a JES.
JL deu sinais de que pretende um Congresso com candidatura única, para poder materializar a sua agenda de sucessão — razão pela qual o regime tem procurado desmobilizar a pré-campanha de HC, até agora o mais forte opositor interno.
A figura de FGM encaixa-se no modelo de bicefalia política desejado por JL – um presidente do partido forte e um PR dependente do sistema de segurança.
Militar de carreira, com influência nos serviços de informações externos e Ministério do Interior (MinInt), FGM foi afastado por JES devido a suspeitas sobre a sua lealdade, mas JL promoveu o seu regresso em 2018 para chefiar o SINSE.
O seu perfil disciplinado, discreto e tecnicamente competente inspira confiança a JL e a sua promoção é considerada como uma estratégia de continuidade controlada, assegurando proteção institucional ao PR e estabilidade no aparelho de segurança.
O modo de afastamento do ex-ministro do Interior, EUGÉNIO LABORINHO, foi interpretado como um novo exemplo da frieza e/ou falta de retidão de JL no exercício do cargo. Sendo corrente que entre JL e EL existia uma antiga relação de amizade, alargada a interesses patrimoniais comuns, o ex-ministro foi afastado subitamente, quando se encontrava no estrangeiro. FM e EL eram crescentemente identificados como rivais na disputa de influências sobre JL, em que demonstraram capacidade superior à de outros indivíduos do círculo restrito do PR.
FGM tem posicionado quadros próximos em cargos estratégicos, incluindo no MinInt, SIC, SME e Tribunal de Contas. Coordenador de facto do aparelho de segurança de Estado – do qual fazem também parte o Serviço de Inteligência Externa (SIE) e o Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM) – tem vindo a colocar elementos da sua confiança em posições-chave no Estado e até no MPLA, como MARIANA DE LOURDES LISBOA FILIPE, ex-chefe do SINSE e atual coordenadora-adjunta da Comissão de Disciplina, Ética e Auditoria do partido. A ascensão destes quadros é também associada à possibilidade de FGM vir a assumir funções políticas. MH exerceu altas funções na segurança de Estado, à qual sempre se manteve ligado; LUCIANO TÂNIO JORGE MARTINS da SILVA, novo DG do Serviço de Investigação Criminal (SIC), foi DG adjunto do SINFO, antecessor do SINSE; JOSÉ COIMBRA BAPTISTA JÚNIOR, DG do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) era chefe adjunto do SINSE. Na cadeia de comando das Forças Armadas e no seu corpo de grandes oficiais têm sido registadas mudanças de menor repercussão pública, mas com o mesmo sentido.
De forma considerada mais discreta, oficiais do SINSE têm também vindo a ser infiltrados em instituições do Estado e em empresas públicas, em geral a coberto de funções nominais para as quais são formalmente nomeados.
Para ser elegível para um cargo político, FGM teria de passar à reforma, o que dependeria de decisão política superior – algo que JL poderia concretizar com facilidade. Caso se confirme a reforma de FGM e a sua eventual candidatura, este poderá contar com apoio decisivo do aparelho de segurança, setores militares e figuras do MPLA que valorizam estabilidade e proteção de interesses acumulados. A sua candidatura representaria a continuidade do sistema, sob nova fachada, preservando as redes de influência que sustentam o poder presidencial, num contexto de contestação social.
Habitualmente muito reservado, incluindo em círculos próximos, FGM evita comentários sobre as circunstâncias em que poderia assumir-se funções políticas. Desde 2020, o SINSE passou a dedicar atenção ao tema das candidaturas, tendo montado um gabinete (no condomínio Rosalinda, na Corimba), incluindo para avaliar a viabilidade sobre uma eventual candidatura de FGM.
