O Serviço de Investigação Criminal (SIC) apresentou recentemente, dois russos e dois angolanos, presos preventivamente, suspeitos dos crimes de associação criminosa, falsificação de documentos, terrorismo e financiamento ao terrorismo.
Aos jornalistas, o SIC revelou que os detidos russos são acusados de pertencerem à África Politology, uma das principais plataformas de desinformação no continente africano do Grupo Wagner, o grupo paramiliar russo de Prigozhin.
“Realçar que as nossas investigações determinaram que os cidadãos russos são operacionais da organização África Politology, que dentre várias missões a sua atividade visa promover campanhas de desinformação, manipulação da mídia local e infiltração em processos políticos, sobretudo, no fomento da subversão”, refere-se na nota do SIC.
Neste artigo, a equipa do Verifica.ao mostra-lhe tudo sobre a África Politology.
O que é a Africa Politology
África Politology é referenciada como uma entidade ligada a Yevgeny Prigozhin (Grupo Wagner). Em 26 de janeiro de 2023, o Departamento de Estado anunciou a designação; a listagem oficial da OFAC confirma a entrada “AFRICA POLITOLOGY”, inclusive com o endereço em São Petersburgo.
Segundo ainda o Departamento de Tesouro dos EUA, a Africa Politology “desenvolve estratégias e mecanismos para induzir países ocidentais a se retirarem de África” e conduz tarefas de influência na República Centro-Africana (RCA) e no Mali, incluindo descredibilizar a ONU e promover ações judiciais contra a imprensa que reporta abusos do Wagner.
O que já foi documentado sobre as suas operações
- RCA (caso emblemático): investigações colaborativas (Forbidden Stories, Le Monde, AP) detalham uma operação de desinformação em que jornalistas locais eram recrutados/dirigidos por estruturas associadas ao “ecossistema Prigozhin” — identificadas como Africa Politology — para fabricar narrativas pró-Wagner, organizar manifestações anti-ONU e encobrir abusos. Há testemunho detalhado de um ex-participante (Ephrem Yalike/Ngonzo) que descreve tarefas, roteiros e canais usados.
- Mali: documentos e comunicados de sanções indicam cooperação de executivos do Wagner com a Africa Politology em negócios de armas e mineração e noutros esforços de influência em 2023.
Métodos recorrentes atribuídos à rede (com Africa Politology como peça)
Uma das suas principais operacionalidades é a criação/gestão de meios e páginas “locais” para impulsionar narrativas pró-Rússia e anti-Ocidente; ataques à imprensa independente e à MINUSCA/ONU; protestos encenados; e campanhas coordenadas nas redes sociais. Estes padrões aparecem em relatórios e investigações sobre o modus operandi do Wagner em África (RCA, Sahel).
Situação legal e sanções
Designada pelos EUA (2023) como entidade que atua em nome do falecido Prigozhin (EO 14024). A entrada da OFAC lista “AFRICA POLITOLOGY” como empresa privada ligada a Prigozhin, com endereço em Andreyevskiy Dvor, Bolshoi Prospekt V.O., 18, São Petersburgo.
Outras referências oficiais subsequentes do Departamento do Tesouro dos EUA reiteram o papel da Africa Politology como braço de influência do Wagner na RCA e no Mali, inclusive em notas de sanções relacionadas ao ouro africano (financiamento do Wagner).
Porque é considerada uma “plataforma de desinformação” relevante
As provas documentais até agora vistas, na qual a equipa do Verifica.ao teve acesso (sanções oficiais + investigações jornalísticas com fontes internas) apontam para uma estrutura organizada de influência que produz/coordena conteúdo e ações offline (protestos, processos judiciais) para moldar a opinião pública e expulsar a presença ocidental, favorecendo o espaço operacional do Wagner.
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