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Centralidade do Kilamba: a cidade a transformar-se num “gueto na vertical”

Apesar dos problemas que estão a afugentar os moradores, o Luanda Post constatou que o Orçamento Geral de Estado para 2024 não prevê verbas para o saneamento da centralidade do Kilamba, que este ano celebra o 13.º aniversário.

Em 2012, a maioria dos citadinos de Luanda, assombrados com o sonho da casa própria, queriam, pelo menos, ter um apartamento na centralidade do Kilamba, a primeira de várias que surgiram pelo País, mas esta foi inaugurada a 11 de Julho de 2011, pelo então Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Localizada há cerca de 40 quilómetros a sul de Luanda, o projecto contempla 82 mil apartamentos, numa área de 54 quilómetros quadrados. O Kilamba, que hoje tem como administrador Hélio Aragão, vive problemas sérios em alguns dos seus blocos, com destaque para o bloco F, S e W.

Problemas no sistema de saneamento básico, fissuras no interior de alguns edifícios, a falta de manutenção e iluminação pública das principais vias e a criminalidade são algumas das situações que enfrenta a Administração local, para a qual as soluções dependem do governo de Manuel Homem.

Sobre o saneamento, entre Novembro e Dezembro de 2023, a centralidade viveu um dos seus piores momentos, com o desabamento de parte da via que liga o bloco F ao C, nas imediações das instalações do Fundo de Habitação e Fomento, tendo danificado uma viatura de marca Mitsubishi L200.

Depois do sucedido, a Administração do Kilamba decidiu interditar parte da rua — pelo menos, 300 metros — para uma intervenção paliativa.

No bloco S, sobretudo no S8, desde o desabamento do passeio e ruptura da drenagem, os moradores daquele edifício, segundo constatou in loco o Luanda Post, já não conseguem abrir as janelas devido ao cheiro nauseabundo.

“Como podem ver a situação que estamos a viver, desde princípio de Dezembro do ano passado que já não conseguimos abrir as janelas das nossas casas, devido ao meu cheiro. A Administração veio apenas improvisar com a colocação de separadores, mas resolver o problema nada está a fazer”, desabafou Mariana António (nome fictício) ao Luanda Post no passado dia 6 de Janeiro.

Os moradores do S8 pedem a intervenção urgente das autoridades, porque a situação, segundo eles, caso continue assim, coloca em risco de desabamento o edifício, além do cheiro, que pode causar problemas graves de saúde pública.

Por estar num sistema interligado, quem também está a sofrer com o problema do S8 são os moradores do lado oposto, do bloco W, porquanto as águas dos esgotos entupidos vão criando alguns constrangimentos para quem faz daquela zona viveiro ou sítio de lazer.

Com os inúmeros problemas na centralidade, o sonho de o Kilamba ser o El Dorado dos luandenses há muito que deixou de o ser para aqueles adquiriram apartamentos por via dos ministérios e instituições públicas, bem como para os que conseguiram por meio do trespasse.

Coincidentemente, no dia 6 de Janeiro, devido a problemas de saneamento no edifício, o casal Viera tinha acabado de vender por trespasse o seu apartamento no rés-do-chão.

“Queríamos viver aqui por mais tempo, mas infelizmente os problemas de drenagem do prédio obrigou-nos a vender a preço de banana o nosso apartamento. Procuramos por várias vezes o auxílio da Administração, mas nunca houve. Estamos cansados, nós gastamos muito; por fim, a venda é a solução”, desabafou o casal, que diz estar a procurar uma nova casa no KK 5000 ou na Vila Pacífica.

Sobre a criminalidade, no dia 12 de Janeiro, os novos comandantes da Polícia Nacional e dos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros, do distrito do Kilamba, reuniram com a chefe de Secção Jurídica Administração local, Patrícia de Lemos, o conselho de moradores e coordenadores de bairros, visando avaliar e traçar planos conjuntos para dar resposta à questão de segurança pública a nível do distrito.

Orçamento de 2024 não prevê verbas para saneamento do Kilamba

A Administração procura minimizar — à sua maneira — os problemas, pois o Orçamento Geral do Estado para o presente ano não prevê verbas para o saneamento da centralidade do Kilamba, que no próximo mês de Julhocompleta 13 anos de existência.

Após ter sido nomeado, em 2022, pelo Presidente da República, João Lourenço, Manuel Homem elegeu a macrodrenagem como uma das principais bandeiras do seu consulado no Governo da Província de Luanda.

Recorde-se que, em Luanda, o trabalho de micro e macrodrenagem está nas mãos da Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda (ELISAL E.P), que tem recebido meios técnicos do Governo.

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