Com respeito à sua trajetória e à memória que todos partilhamos do Presidente José Eduardo dos Santos (JES), venho por esta carta expressar uma reflexão pública sobre o áudio recentemente divulgado, no qual a senhora questiona a representatividade dos irmãos Danilo e Josiane que receberam a condecoração em nome do vosso pai.
É legítimo, até compreensível, que se deseje ver os mais velhos assumirem certos gestos simbólicos em nome da família. A senioridade, quando vivida com dignidade, pode ser expressão de honra e continuidade. No entanto, não estando presentes por diversas razões, os mais velhos, a representatividade não foi garantida pela idade, mas pela convivência, pela formação recebida, pela presença nos momentos cruciais da vida e pela capacidade de carregar o legado com sobriedade.
Nesse sentido, Danilo dos Santos, cuja aparência foi alvo de insinuações infelizes, é provavelmente o filho que mais conviveu, aprendeu e foi educado diretamente por JES. A sua postura pública tem sido marcada por discrição, respeito e sentido institucional — valores que, creio, honram o nome de José Eduardo dos Santos.
Trazer ao espaço público dúvidas sobre paternidade, ainda que envoltas em ironia ou dor, não é saudável, recomendável nem oportuno. A Senhora pode, ainda, vir a ser uma importante política de Angola, pelo que não seria sábio dispersar o capital por conta de episódios ligeiros. A dor familiar, quando existe, deve ser tratada com dignidade e, se possível, em silêncio. O espaço público exige de nós responsabilidade, sobretudo quando falamos em nome de uma memória que pertence também à nação.
A história de JES é complexa, rica e plural. Nenhum de nós a possui por inteiro. Mas todos temos o dever de protegê-la do escárnio, da fragmentação e da exposição indevida. Que o luto se transforme em legado, e que o legado seja vivido com respeito, não com disputas.
Com espírito de reconciliação e compromisso com a verdade,
Rui Kandove
Rui Kandove (Analista Político – In Facebook)








