Debate entre o empresário e dirigente desportivo Bento Kangamba e vários activistas angolanos abordou os principais desafios da sociedade angolana, desde o campo político e económico até aos sectores da educação, saúde e habitação.
Durante o encontro, o empresário apelou aos jovens para que concedam mais tempo ao partido no poder, de modo a permitir a concretização dos seus projectos, sublinhando que 23 anos de governação não são suficientes.
“O MPLA não governa há 50 anos. Agora, se disserem que o MPLA governa há 20 ou 30 anos, posso aceitar isso”, declarou o presidente do Kabuscorp e militante do MPLA.
Num encontro com membros da sociedade civil angolana, entre os quais o presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, e o activista indultado Gilson da Silva Moreira, conhecido como Tanaice Neutro, Kangamba contestou a narrativa segundo a qual o partido no poder não tem desenvolvido projectos ao longo dos anos.
De acordo com o empresário, os anos de governação do MPLA devem ser contabilizados apenas a partir de 2002, ano que marcou o fim da guerra civil em Angola.
“O MPLA governa há 23 anos. Nestes 23 anos tivemos muitos problemas – calamidades, a Covid, morreram muitas pessoas, não há dinheiro”, afirmou.
Embora tenha apontado as adversidades como causas do atraso em alguns sectores, Bento Kangamba mostrou-se indignado com o facto de problemas básicos continuarem a afectar a população, citando, como exemplo, a ausência de asfalto nos arredores da Centralidade do Kilamba.
O também general na reforma defendeu ainda a necessidade de uma clara separação entre os activistas e os partidos políticos, considerando que a linha entre ambos tem vindo a esbater-se no debate público.
Mas será verdade que o MPLA não governa o país há 50 anos?
Não. O MPLA proclamou a independência nacional a 11 de Novembro de 1975 e assumiu a governação do país, então em regime de partido único, nesse mesmo período.
“Com o fim da guerra colonial portuguesa, o MPLA proclamou a independência de Angola. Desde então, o partido tem liderado o país na construção de uma nova nação, enfrentando os desafios da reconstrução pós-guerra, do desenvolvimento económico e social e da consolidação da democracia”, lê-se no site oficial do partido.
Apesar de outros dois movimentos de libertação, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) também terem proclamado independência, foi o MPLA quem assumiu a governação efectiva do país.
Seguiu-se um conflito armado que se prolongou até à assinatura dos Acordos de Bicesse, em Maio de 1991, os quais abriram caminho à realização das primeiras eleições gerais em 1992. Nesse pleito, o MPLA saiu vencedor, segundo dados da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
Após as eleições, Angola voltou a mergulhar na guerra civil, que terminou em 2002 com a assinatura, em Luena, do Memorando de Entendimento Complementar ao Protocolo de Lusaka, pondo fim definitivo ao conflito armado e marcando o início da paz efectiva que o país celebra todos os anos a 4 de Abril.
Contrariamente à afirmação de Bento Kangamba, o MPLA governa Angola desde 1975, perfazendo 50 anos de governação em 2025, embora o período de paz e reconstrução nacional tenha começado apenas em 2002.
Polígrafo África