O Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto (AIAAN), localizado no município de Icolo e Bengo, a cerca de 40 quilómetros de Luanda, inicia neste domingo, 19 de outubro, uma nova etapa operacional com a transferência dos voos internacionais da TAAG, companhia aérea nacional. A mudança marca um passo crucial na transição planeada desde a inauguração da infraestrutura, ocorrida em 10 de novembro de 2023 e não em 2024, como inicialmente previsto.
Apesar da modernidade e da capacidade técnica do novo aeroporto projetado para receber até 15 milhões de passageiros por ano e aeronaves de grande porte como o Airbus A380, sua plena funcionalidade ainda esbarra em lacunas críticas de mobilidade urbana, logística e serviços complementares, segundo constatações feitas in loco pelo Novo Jornal.
Infraestrutura avançada, mas isolada
Inaugurado com um investimento estimado em 2,8 mil milhões de dólares norte-americanos, o AIAAN substituirá gradualmente o antigo Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, cuja capacidade máxima era de cerca de 3 milhões de passageiros anuais. Contudo, enquanto a infraestrutura aeroportuária impressiona pela qualidade dos serviços de terra como check-in, despacho de bagagens e desembaraço aduaneiro, o entorno revela-se desprovido de redes hoteleiras, restaurantes, agências de viagens e serviços de mobilidade contínua.
Passageiros entrevistados relatam dificuldades significativas para chegar ao aeroporto, especialmente devido à falta de transportes públicos eficientes. O comboio que ligava Luanda ao novo aeroporto, por exemplo, funcionou apenas durante um mês após a inauguração, deixando milhares de utilizadores dependentes de táxis ou veículos particulares.
“É muito difícil circular. Leva-se tanto tempo para sair da cidade até aqui. Somente no quilómetro 25 as coisas começam a abrandar”, desabafa Eusébio Diemba, passageiro recém-chegado dos Estados Unidos via Dubai. Ele ressalta que, embora a estrada esteja em boas condições, os engarrafamentos tornam a viagem exaustiva especialmente para quem precisa chegar com antecedência para voos domésticos ou internacionais.
Falta de alojamento e serviços gera pernoites forçadas
A ausência de hotéis nas proximidades do aeroporto também é um problema recorrente. Passageiros com voos cancelados ou com conexões noturnas como os provenientes de Cabinda, cujo último voo chega por volta das 22h00 veem-se obrigados a pernoitar nas redondezas, muitas vezes sem alternativas acessíveis.
“Se um indivíduo não tiver valores suficientes para pagar o táxi — que custa cerca de 15 mil kwanzas até Luanda, dorme ao relento”, relata um funcionário público que preferiu o anonimato. Os poucos restaurantes existentes não compensam a carência de opções, e os serviços de rent-a-car ou táxis regulares são escassos fora do horário comercial.
Passageiros elogiam atendimento, mas pedem soluções urgentes
Apesar dos entraves logísticos, o atendimento dentro do aeroporto é amplamente elogiado. “Os agentes da Polícia e o pessoal de limpeza são prestáveis”, afirma um viajante. António Sérgio, estudante que viajava para Cabinda após as férias, reconhece a qualidade do serviço, mas lamenta ter de sair de casa muito cedo para garantir que não perca o voo.
Gregório Luís, com destino a Catumbela, reforça a necessidade urgente de infraestrutura complementar: “Hotéis, restaurantes e transportes são essenciais para evitar constrangimentos.”
Calendário de transição internacional começa em novembro
Embora a TAAG comece a operar voos internacionais a partir deste domingo, as demais companhias aéreas estrangeiras só deverão transferir suas operações para o AIAAN a partir de novembro, conforme cronograma definido pelas autoridades aeronáuticas angolanas.
Enquanto isso, o antigo Aeroporto 4 de Fevereiro continua a receber a maior parte dos voos internacionais um sinal de que a transição será gradual e dependente da resolução dos gargalos externos à infraestrutura aeroportuária.
Um gigante à espera de seu ecossistema
O AIAAN representa um marco na modernização da aviação civil em Angola. No entanto, como bem observou um dos passageiros entrevistados: “Noutras realidades, o aeroporto fica distante, mas as facilidades de mobilidade são enormes há metro, comboio expresso, hotéis e restaurantes.”
Em Angola, o desafio agora é construir esse ecossistema em torno do gigante recém-inaugurado, garantindo que sua excelência técnica não seja neutralizada pela ausência de conectividade e serviços essenciais. Afinal, um aeroporto moderno só cumpre plenamente seu papel quando integra-se à vida da cidade que serve.
In Novo Jornal







