Opinião

Áfricas, é hora de parar para pensar

Os grandes filósofos deixaram-nos lições incríveis sobre a importância da reflexão que hoje, modernamente, chamamos pausas estratégicas. Não é apenas semântica, é um acto de boa governação, pois mais do que nunca precisamos de tempo para meditar, reflectir, pensar… Já que a velocidade pode ser imposta sem direcção, nem foco. Pensar com dados, memória histórica e honestidade é o primeiro investimento em resiliência.

Na vida pessoal, as pausas são um travão ao esgotamento (burnout)um reset da energia, clarificação de prioridades, metas e valores, para se tomarem decisões mais alinhadas com os propósitos individuais. Restaura-se a energia, potencia-se a criatividade e a produtividade.

Nas empresas, momentos colectivos de pausa (como retiros ou dias de reflexão) impulsionam a inovação e evitam a estagnação. Permitem rever estratégias, identificar ineficiências e realinhar objectivos de mercado. Além disso, fomentam uma cultura organizacional saudável e ajudam a prevenir crises, porque refletir com serenidade sobre riscos e oportunidades evita decisões precipitadas em pressão e em conflitos.

Nos países, deste mundo acelerado e volátil, que pausam, mostram coragem política. Reavaliar políticas públicas, posicionamentos estratégicos corrigir distorções e redefinir rumos, fortalecem a coesão social. A História mostra que Nações que revisitam passado aprendem; quem insiste repete, sobretudo se querem um futuro resiliente e sustentável.

Aqui nas Áfricas, continente diverso em histórias, trajectórias e realidades, este é o momento crucial para se refletir estrategicamente. A complexidade histórica e diversidade contemporânea, ainda é carregada de legados coloniais, sistemas económicos extrativistas e instituições frágeis, o que exige uma reflexão estratégica própria e contextualizada, para que não se repliquem modelos externos sem adaptação. Cada país precisa de pensar onde está, de onde veio e para onde quer ir de forma consciente e informada.

Parar para pensar na janela demográfica e no risco de perder o “bónus”. A juventude tanto pode ser um motor de crescimento como uma bomba de frustração social. Em causa estão recursos naturais abundantes, mal aproveitados, terras férteis e biodiversidade.

Não basta viajar, copiar sem reflexão estratégica. O mundo corre e para corrermos também como uma chita, as Áfricas precisam de, primeiro, mapear as suas vulnerabilidades aos choques globais antes de começarem a correr à toa. As Áfricas precisam de reconstruir soberania, coesão social e reflexão estratégica é um acto de soberania, é escrever agendas próprias e recusar roteiros alheios. Áfricas, não tenham vergonha de parar para pensar. Esta é a hora!

Naiole Cohen, Economista, Professora na Universidade Agostinho Neto, Luanda – In Jornal Económico

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