O Abanca já selou a compra do EuroBic. O banco galego assinou quarta-feira, 15 de novembro, dois contratos de promessa de compra e venda: um com o grupo de acionistas liderado por Fernando Teles que detém 57,5% do EuroBic, em Lisboa, e outro para compra da posição acionista de 42,5% de Isabel dos Santos que foi assinado o contrato no Dubai.
O negócio será concretizado após a ‘luz verde’ das autoridades competentes como o Banco Central Europeu (BCE), confirmou o Abanca, dando conta que triplica a sua presença no país e torna-se o oitavo maior banco em Portugal.
A oferta do banco galego incide sobre 100% do EuroBic, ascendendo a 305 milhões, dos quais 175 milhões correspondem ao primeiro bloco de ações vendidas pelo grupo de acionistas detentor da maioria do capital, revelou ao Jornal Económico um acionista ligado ao grupo vendedor.
O segundo bloco de ações de 42,5% do capital, detido por Isabel dos Santos, representa um encaixe de 130 milhões de euros, tendo a sua alienação de passar pelo crivo do procurador Rosário Teixeira que tem em mãos a investigação ‘Luanda Leaks’.
O Abanca sinalizou a confirmação da oferta de compra de 57,5% do EuroBic ao acionista Fernando Teles que lidera este bloco de ações.
Obstáculos decorrentes do arresto sobre as contas bancárias da empresária e o facto de Isabel dos Santos não ser representada neste processo de venda por Fernando Teles acabaram por ditar a venda em separado de dois blocos de ações, tendo o Abanca mantido o objetivo de comprar 100% do EuroBic, numa oferta que em maio do ano passado ascendia a 210 milhões de euros.
A confirmação ao negócio, que teria de ser dada no início de novembro, foi dada após a conclusão do processo de due diligence, que visa fornecer ao potencial investidor uma visão mais aprofundada dos números do banco, e que tinha como data-limite 31 de outubro.
O banco galego, num primeiro momento, pronunciou-se favoravelmente sobre os termos do acordo com o grupo de acionistas que está a vender 57,5% do EuroBic. Este grupo é liderado por Fernando Teles, que detém 37,5% do banco, e engloba outros acionistas angolanos, como Luís Cortez dos Santos, Manuel Pinheiro Fernandes e Sebastião Lavrador (cada um com 5% do capital) e ainda mais 5% que são detidos por cinco quadros de gestão do EuroBic.
Fonte oficial do Abanca, contactada pelo JE, não comentou as assinaturas dos dois contratos, bem como o montante do negócio.
Abanca torna-se o oitavo maior banco do país
Em comunicado, o Abanca avançou que, com esta operação, “o banco reforça significativamente a sua presença em Portugal e torna-se o oitavo maior banco do país”, dando conta de que “vai quadruplicar o seu número de clientes, triplicar o seu volume de negócios e triplicar os seus pontos de venda no país”, com cerca de 18.500 milhões de euros de volume de negócio, 249 pontos de venda e mais de 300.000 clientes.
Em 2018, o Abanca adquiriu a rede de retalho do Deutsche Bank Portugal, o que lhe permitiu atingir 70 pontos de venda e um volume de negócio de quase 7.000 milhões de euros. Com uma equipa de 500 profissionais especializados em famílias e empresas, e na distribuição de fundos de investimento, o Abanca Portugal registou entre janeiro e setembro de 2023 um aumento de 76% de novos clientes face ao mesmo período do ano anterior.
“No âmbito da nossa estratégia de posicionamento como entidade de vocação ibérica, Portugal sempre foi uma prioridade para o Abanca. É uma das economias mais dinâmicas da Zona Euro e um mercado natural para nós devido à sua forte inter-relação económica e cultural com Espanha e, em particular, com as áreas geográficas de liderança do Abanca”, afirma, em comunicado, Juan Carlos Escotet Rodriguez, presidente do banco galego.
Já o CEO do banco, Francisco Botas, frisa que esta operação permite “otimizar” a presença do Abanca em Portugal e proporciona “um elevado grau de complementaridade em termos estratégicos2, acrescentando que “a operação trará sinergias claras em termos de receitas, um maior desenvolvimento na banca universal, um potencial de crescimento em fora do balanço e seguros, e um forte posicionamento no negócio de meios de pagamento”.
A operação representará 9,5% dos ativos totais do Abanca, 10,1% dos seus empréstimos, 10,5% dos seus depósitos e 15,1% das receitas.
A venda do EuroBic será feita em dois blocos, um de 57,5%, liderado pelo acionista Fernando Teles. Depois há o segundo bloco, de 42,5% do capital, detido por Isabel dos Santos, mas os processos judiciais envolvendo a empresária angolana têm criado entraves à venda.
A filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos é acionista de referência do EuroBic, através da Sociedade de Participações Financeiras (25%) e da Finisantoro Holding Limited (17,5%) e tem as participações sociais arrestadas pela justiça do seu país.
No bloco de 42,5% de Isabel dos Santos, o Abanca enfrentou nos últimos meses como obstáculos o arresto sobre as contas bancárias da empresária, apesar de a justiça angolana ter dado ‘luz verde’ para debitar o produto da venda do EuroBic.
O tiro de partida para a concretização do negócio foi, aliás, dado em outubro do ano passado, quando a PGR de Angola deu ‘luz verde’ para desbloquear até 50 milhões de euros das contas arrestadas a Isabel dos Santos para pagamento de dívidas (ao fisco e segurança social, entre outras) com vista a regularizar a situação societária da Finisantoro e da Santoro Financial Holding. Algo considerado essencial para se poder selar a venda.