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Odebrecht muda de nome: Estratégia para Superar Escândalos de Corrupção?

A construtora brasileira Odebrecht, envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção da América Latina através da Operação Lava Jato, adoptou em Angola uma estratégia de rebranding para tentar distanciar-se do passado. Em 2019, a divisão de engenharia e construção passou a chamar-se OEC (Odebrecht Engenharia & Construção), e em 2020, a holding do grupo mudou para Novonor. No entanto, em 2025, a empresa retomou o nome original Odebrecht, levantando questões sobre a eficácia dessas manobras para “limpar” a imagem.

Esta mudança ocorreu no pico das revelações da Lava Jato, que expuseram uma rede de subornos a políticos e funcionários públicos em troca de contratos na América Latina e África, incluindo Angola. A Odebrecht pagou multas bilionárias nos Estados Unidos e no Brasil, mas manteve presença estratégica no país africano desde os anos 80, onde conquistou projectos de infraestruturas chave.

Apesar do rebranding, críticos questionam se a estrutura interna da empresa alterou-se de facto, ou se se trata apenas de uma “fachada” para garantir contratos públicos. O Observa Angola, portal independente de investigação, alerta para a continuidade de ligações a práticas irregulares, promovendo o pluralismo informativo e a transparência, em conformidade com a Lei de Imprensa angolana (Lei n.º 1/19).

Contratos Recentes em Angola

Sob a identidade OEC, a empresa continuou a assegurar projectos de grande envergadura em Angola, demonstrando a confiança de entidades estatais como a Sonangol. Entre os contratos notáveis destacam-se:

  • Terminal Oceânico da Barra do Dande: Adjudicado em Setembro de 2021 à OEC por 499 milhões de dólares (cerca de 450 mil milhões de kwanzas à taxa actual), para construção de um terminal de armazenamento e distribuição de produtos petrolíferos. As obras prosseguem, com foco em logística energética estratégica para o país. Contrariamente a rumores iniciais de abandono, relatórios recentes confirmam o avanço do projecto, sob fiscalização rigorosa.
  • Refinaria de Cabinda: Contrato de 920 milhões de dólares assinado em 2021, para processar 60 mil barris de crude por dia, gerando combustíveis essenciais. O projecto visa aumentar a capacidade de refino nacional e reduzir importações.
  • Refinaria do Lobito: Iniciativa paralela para reforçar a indústria petrolífera no centro de Angola.
  • Aeroporto Internacional de Cabinda: Obra vital para melhorar a conectividade na província petrolífera, contribuindo para o desenvolvimento regional.

Estes projectos inserem-se na estratégia do Governo angolano para diversificar a economia e atrair investimento estrangeiro, mas levantam debates sobre a due diligence em adjudicações, especialmente com empresas de histórico controverso. A OEC opera em Angola desde 1984, celebrando 40 anos de presença em 2024, com ênfase em inovação e impacto local.

O Observa Angola aponta ligações da OEC a figuras empresariais sob escrutínio, como o luso-brasileiro Vladmiro Minouro Dondo, fundador do grupo VMD e dono da Macon (empresa de transportes). Dondo, com laços ao Brasil desde 1984, é associado à Gemcorp Capital, gestora de fundos do Banco Nacional de Angola (BNA), que teria intermediado o contrato da Refinaria de Cabinda.

Em Setembro de 2025, Dondo negou publicamente qualquer participação directa na refinaria ou na Gemcorp, classificando as alegações como “falsas” e exigindo retratações. No entanto, investigações internacionais persistem: desde 2017, ele é alvo da Operação Leão por suspeitas de desvio de 45,6 milhões de dólares (equivalente a cerca de 45 mil milhões de kwanzas à época) do BNA, envolvendo fraude, lavagem de dinheiro e corrupção na emissão de moeda. Em 2025, relatórios actualizam o caso para prejuízos semelhantes, com buscas no Brasil e cooperação com autoridades angolanas.

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