Em visita recente a Angola, o antigo ministro português da Economia e do Mar, António Costa Silva, concedeu uma entrevista ao jornal “Expansão” na qual afirmou que mais de 11 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema no país. E defendeu, como parte da solução, uma revolução agrícola.
Natural do Bié, centro de Angola, nascido em 1952, António Costa Silva participou na recuperação económica de Portugal no período pós-pandemia da Covid-19. O ex-ministro tem mantido um olhar atento sobre a realidade angolana e acaba de publicar o livro “Angola aos Despedaços: 50 Anos Depois, Que Futuro?”.
Na obra, identifica como principais causas do “fracasso” de Angola “a armadilha da guerra, a má governação, a corrupção endémica e o abandono da educação, da saúde e do bem-estar social”.
Em declarações ao “Expansão”, António Costa Silva reconheceu os avanços do país em algumas áreas, nomeadamente na consolidação da independência e no fim da guerra civil, mas lamentou o persistente quadro de pobreza que afecta milhões de angolanos.
“É óbvio que o país avançou em algumas áreas – conquistou e consolidou a independência, conseguiu pôr fim à terrível guerra civil, que é sempre autofágica e que devorou 26 dos 50 anos de independência. Mas, quando olhamos para a situação social e económica, há muito caminho a percorrer. Temos, em Angola, cerca de 11,6 milhões de pessoas a viver em miséria extrema”, afirmou.
O ex-ministro acrescentou ainda que, segundo organismos internacionais, a fome em Angola terá aumentado cerca de 82% entre 2017 e 2025.
Mas será verdadeira a afirmação de que 11,6 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema em Angola?
De acordo com os dados mais recentes, sim. O número citado por António Costa Silva é consistente com as estimativas do World Poverty Clock, uma plataforma desenvolvida pelo instituto alemão World Data Lab, que recorre a dados públicos sobre distribuição de rendimentos, estratificação social, produção e consumo, fornecidos por entidades como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
Segundo o “World Poverty Clock”, 11,6 milhões de angolanos vivem em pobreza extrema, equivalente a 31% da população, num universo populacional estimado em mais de 36 milhões de habitantes.
Polígrafo África