“Angola já registou avanços importantes em TMT (Tecnologia, Media e Telecomunicações) e Serviços Digitais, mas esses progressos ainda não são suficientes para responder às necessidades futuras. É necessário mais investimento, soluções de financiamento, capacidade de armazenamento e infra-estrutura digital, e disponibilidade e eficiência em energia”, defendeu Gabriel Calado, Senior Manager da EY Angola, durante o VIII Fórum Telecom, realizado em Luanda, na sexta-feira, dia 26, sob o mote ‘O Triângulo da Digitalização – Serviços Digitais, IA e as Telecomunicações’.
Numa apresentação sobre o tema ‘Inteligência Artificial e novos Serviços Digitais: Do hype ao impacto real’, Gabriel Calado começou por afirmar que a IA “já não é uma escolha”, mas uma “corrida por vantagem competitiva”, mencionando que 83% dos executivos globais consideram-na uma prioridade estratégica.
De acordo com o Senior Manager da EY Angola, os Serviços Digitais assumem uma “importância crescente no desenvolvimento económico e social” de Angola, nomeadamente ao nível do impulso à economia, da inclusão à acessibilidade, da inovação e competitividade, da conectividade e integração, e da resiliência e sustentabilidade.
Numa análise à conectividade digital e à infra-estrutura no País, destacou o crescimento desta conectividade, apontando que, em 2024, Angola registou mais de 14 milhões de utilizadores de internet e perto de 30 milhões de ligações móveis. O responsável salientou ainda a modernização da rede Unitel, os sistemas de cabos submarinos e os dados em nuvem da Africell.
No entanto, considerando que estes progressos “ainda não são suficientes para responder às necessidades futuras” de Angola, Gabriel Calado abordou os principais desafios da IA no País, começando pela qualidade e disponibilidade de dados, em que “muitas organizações carecem de dados bem estruturados, completos e de qualidade, o que limita a formação de modelos confiáveis de IA”.
“Uma das formas de mitigar esta carência é através da adopção de um modelo leve de data governance, com definição de data owners, catálogo simples e políticas básicas de limpeza. Um ciclo de auditoria regular garante maior fiabilidade para projectos de IA”, defendeu.
Outro dos desafios passa pela escassez de talento e competências em IA, sendo para isso necessário o lançamento de programas rápidos de capacitação e parcerias locais para formar equipas centrais, já que o recurso a modelos pré-treinados acelera resultados enquanto se desenvolve talento nacional.
Neste contexto, Gabriel Calado destacou o EY.ai Framework, um programa dinâmico e centrado no ser humano com o potencial de alavancar e capacitar as organizações na adopção de IA. “A EY garante que a IA opera de forma responsável e transparente, aprimorando as habilidades humanas. O foco do EY.ai Framework é elevar o potencial humano com ferramentas de IA, a supervisão ética contínua e o desenvolvimento de competências”, explicou.
Ainda sobre os principais desafios da IA em Angola, o Senior Manager da EY mencionou a infra-estrutura tecnológica limitada, em que “a conectividade instável, a energia e o hardware desactualizado impedem o processamento em larga escala e a integração contínua de soluções de IA”, podendo a solução passar pela aposta em pilotos em Cloud regional ou híbrida, escalando progressivamente.
Por fim, o responsável apontou as barreiras culturais, estratégicas e de governança. “Sem liderança, visão integrada e políticas claras de ética e compliance, muitos projectos ficam presos em pilotos, ou são boicotados por resistência interna. Para mitigar este desafio, poderão ser usados pilotos de baixo risco e alto impacto para demonstrar valor, acompanhados da criação de um comité sénior de ética e compliance para guiar o roadmap de IA.”
Num olhar para o actual cenário da IA em Angola e para as oportunidades futuras, explicou que a IA está a ser hoje sobretudo usada no País para melhorar a eficiência, desde o Mobile Money e plataformas OTT, até aos primeiros passos no e-governo.
“A próxima fase será sobre o uso da IA para melhorar a qualidade. É aqui que a IA não torna apenas os processos mais rápidos, mas também melhores. Já a fase final será uma fase transformadora. Tratar-se-á de criar formas totalmente novas de fazer as coisas. A IA não está apenas a acelerar os fluxos de trabalho existentes ou a melhorar a produção, está também a mudar o campo e jogo”, afirmou Gabriel Calado, concluindo que “a IA não substitui a liderança corporativa, mas amplifica o seu potencial de forma substancial”.
O VIII Fórum Telecom reuniu empresários e especialistas para uma análise e debate sobre o estado e desenvolvimento das estruturas de telecomunicações existentes no País, os serviços digitais já disponíveis e aqueles que irão fazer parte da vida dos angolanos a curto e médio prazo, e o impacto que a utilização de IA aos mais diversos níveis terá neste processo de digitalização.