“Se olharmos para estudos feitos pelo mundo fora e para a realidade que vemos noutros países, verificamos que existe uma relação de causalidade muito grande entre a dimensão do sistema bancário e o desenvolvimento de um país. E, em Angola, ainda temos um sistema bancário pequeno”, afirmou Eduardo Clemente, Administrador do Standard Bank de Angola (SBA), durante o XV Fórum Banca, realizado na Sexta-feira, 12 de Setembro, no CCTA – Centro de Convenções de Talatona, em Luanda.
Orador no painel de debate ‘O Valor e a Rentabilidade dos Bancos em Angola’, Eduardo Clemente alertou que os activos bancários em Angola representam hoje cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que em países como Portugal, os activos dos bancos correspondem a duas vezes o PIB.
“O impacto que nós conseguimos no crescimento e dimensionamento da economia também depende muito da dimensão dos bancos. E neste caso nem falo na diferença de dimensão entre bancos, mas sim no nosso sistema bancário como um todo”, referiu o Administrador do SBA.
Questionado sobre os constrangimentos que podem afectar a rentabilidade de um banco, começou por abordar a informalidade, defendendo que “termos a maior parte da economia fora do sistema formal, tira a capacidade e dimensão aos bancos de poderem estar ainda mais presentes no desenvolvimento dessa economia”.
Segundo Eduardo Clemente, os bancos podem enfrentar constrangimentos externos e internos, destacando-se, a nível externo, as taxas de câmbio, as taxas de juros, a inflação, entre outros factores.
“Os bancos também têm custos de operação. E, portanto, se a inflação é alta, os seus custos também crescem. Além disso, os bancos também estão sujeitos às taxas de câmbio, que impactam igualmente os custos. Depois temos também questões relacionadas com a estratégia da própria organização. Se sou uma organização que quer ter uma dispersão geográfica maior e uma presença física maior, isso, à partida, traz-me custos maiores”, exemplificou.
Sobre a presença física e a presença online de um banco, defendeu que “o digital é muito importante, porque traz eficiência e traz escalabilidade”, no entanto, no contexto do mercado e da economia angolana, é “necessário um modelo híbrido”.
“O modelo digital não vai atender os mais de 30 milhões de habitantes. Há muita gente sem acesso a internet e a energia, e se nós queremos melhorar o acesso à literacia financeira e o acesso à bancarização, vamos ter de jogar nos dois mundos, e ter uma parte física e uma parte digital. Mas claro que o ter mais investimento na componente física tem impacto na rentabilidade, porque aí os custos são muito mais elevados.”
Outros dos factores que impactam os custos de um banco, mas de um ponto de vista interno, são o seu modelo de negócio e a sua estrutura de custos, referiu Eduardo Clemente. Ainda assim, o Administrador do SBA defendeu que “a estrutura de custos interna, a estratégia de crescimento, a estratégia de eficiência operacional, e temas como automatização e formação das pessoas, são tudo pontos no tempo em que parecem custos, mas, na verdade, muitos deles são investimentos que vão trazer essa rentabilidade mais tarde”.
Num olhar para os últimos 15 anos do sector bancário em Angola, destacou que foram marcados por “muitas mudanças e transformações”, tendo-se assistido a processos de fusão, entradas de players internacionais e nacionais, e entradas de novos operadores.
“Acho que o sector bancário tem vivido sempre com concorrência. Agora, como tudo, tem vantagens e desvantagens. Mas na fase em que estamos, e com tanto que temos ainda por fazer e com tantas oportunidades que temos no mercado, considero ainda que estamos numa fase em que podemos colaborar muito uns com os outros para, juntos, encontrarmos as soluções certas para resolvermos muitos dos temas que afectam o nosso sistema bancário e o nosso país. Há ainda muito espaço para colaborarmos antes de estarmos preocupados com a concorrência”, afirmou.
A assinalar a 15.ª edição, o Fórum Banca promoveu uma discussão sobre o impacto do valor e da rentabilidade do sector bancário no desenvolvimento da economia. Além de projectar possíveis alterações no capital social de algumas instituições bancárias, privatizações, fusões ou a entrada de parceiros externos, o evento olhou para o papel do sector bancário numa realidade em transformação, assente em novas necessidades e sujeita a uma concorrência mais agressiva, onde o financiamento privado irá assumir a primeira linha do desenvolvimento do país.







