Os estudantes de gestão norte-americanos são profundamente devotados aos estudos de caso. Analisam problemas, os seus diagnósticos, as medidas adoptadas para os resolver e as lições que podem ser extraídas. Na mais recente iniciativa da administração Trump, encontram um exemplo fascinante: uma experiência radical de eficiência governamental que já está a gerar uma disrupção generalizada.
O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado por decreto executivo, avançou a uma velocidade impressionante. Apesar de não se tratar de um departamento ministerial, obteve acesso aos sistemas de pagamento do Tesouro e a dados de milhões de funcionários federais. Alega ter cancelado contratos e arrendamentos no valor de 420 milhões de dólares nas suas primeiras 80 horas de operação. Mais dramaticamente, desmantelou de forma efectiva a USAID — a principal agência de ajuda externa dos Estados Unidos — ao colocar cerca de 10.000 funcionários em licença administrativa e ordenar o regresso do pessoal destacado no estrangeiro.
Os impactos têm sido severos. Milhões de dólares em assistência humanitária estão congelados. Clínicas de tratamento do HIV em África e centros de acolhimento para migrantes na América Latina encerraram. Os “Escritórios de Mobilidade Segura” na Colômbia, Costa Rica, Equador e Guatemala suspenderam as suas operações. Este cenário sobre a abordagem norte-americana baseada nos “três Ds” — defesa, diplomacia e desenvolvimento — cria, potencialmente, um vazio em regiões estratégicas onde os Estados Unidos competem pela influência com a China e a Rússia.
Elon Musk e a sua equipa de engenheiros têm adoptado uma abordagem implacável, desmantelando instituições governamentais com o fervor de predadores corporativos. Contudo, os seus métodos começam a causar desconforto, mesmo dentro do Partido Republicano, onde alguns receiam que o que parece uma racionalização eficaz em folhas de cálculo possa revelar-se desastroso nas urnas.
Esta tensão evidencia uma verdade fundamental: os princípios empresariais não podem ser aplicados ao governo de forma simples e directa. Tome-se como exemplo o processamento de passaportes. Quando os residentes da Florida requerem passaportes, os documentos podem ser processados em estados como Montana ou Idaho — um sistema que, à primeira vista, parece ineficiente, até se considerar o seu papel no apoio às economias locais. Estas decisões, aparentemente supérfluas para engenheiros de software de Silicon Valley focados em cortar custos, servem muitas vezes propósitos políticos e sociais mais amplos.
A desconexão entre a abordagem técnica do DOGE e a realidade política é particularmente evidente na sua equipa jovem. Um engenheiro de 19 anos, ao vislumbrar uma oportunidade de poupar milhões com automação, pode não compreender a intricada rede de interesses constituintes que a sua “eficiência” pode perturbar. Líderes republicanos veteranos começam a recear que este corte de custos mecanicista possa alienar eleitores em distritos cruciais durante as eleições intercalares.
A experiência do DOGE parece destinada a um desfecho desastroso. Quando isso ocorrer, Trump provavelmente distanciar-se-á do projecto, e Musk será encorajado a regressar àquilo que melhor sabe fazer: lançar foguetes e acumular fortunas. Contudo, sob o drama reside uma questão séria sobre eficiência governamental, que merece análise cuidadosa.
A abordagem da administração Trump, ainda que frequentemente extrema e deliberadamente teatral, contém por vezes um núcleo de verdade. O seu argumento central — de que o governo deve oferecer um retorno justo para os recursos investidos pelos contribuintes — é difícil de refutar. O problema reside na implementação. Em vez de promover uma reforma de forma silenciosa e metódica, o DOGE optou por uma estratégia de máxima publicidade e disrupção, garantindo praticamente uma reacção adversa.
Mesmo assim, outros países poderão retirar lições deste episódio. As burocracias governamentais podem tornar-se tão inflacionadas que parte significativa da ajuda destinada aos mais vulneráveis é consumida por custos administrativos. O verdadeiro desafio consiste em eliminar excessos sem comprometer funções essenciais. Uma abordagem mais subtil poderia ter produzido melhores resultados: análises cuidadosas, mudanças graduais e uma dose muito menor de espectáculo.
O que torna a administração Trump fascinante para os estudiosos é a sua disposição para explorar territórios desconhecidos. Estudantes de gestão analisam os seus métodos de corte de custos e reorganização. Cientistas políticos estudam a sua disrupção das normas estabelecidas. Especialistas em relações internacionais avaliam o impacto na posição global dos Estados Unidos. Até antropólogos encontram material rico na sua reestruturação institucional.
(In Jornal de Angola)